terça-feira, 4 de novembro de 2008

Vida de velho


Dói-me saber que um dia, tudo o que fomos, tudo o que fizemos, tudo aquilo por que lutámos, não será mais, que historia. Deixaremos de ser um corpo hábil, engenhoso, ágil, caloroso, macio, jovem, para passarmos a ser carcaça enrugada e cega, imunda de mágoa, tristeza, solidão, amnésia, doenças incuráveis e com a morte a espreita. É uma volta repentina, de mais ou menos 10 anos, mas que dura muitas vezes, muitos mais. Passamos de jovem a velho, e o que mais magoa, é passarmos na rua, e ser-mos chamados disso mesmo: “Olha o velho!”
Ser velho, é realmente doloroso, quando perdemos a juventude, tão rapidamente como a ganhámos. Não podemos correr, pular, esquecemos muitas coisas e até ler histórias aos netos, se torna numa missão impossível! Isto quando se tem netos…
Mas há quem diga, que a velhice não é difícil, é um castigo. Aqueles que caem numa cama de hospital, sem filhos que os ajudem, sem netos que se interessem, sem amigos que os acompanhem, para estes sim, a velhice é um castigo. A solidão, corrompe-lhes a alma, a mendicidade, transporta-os pelas ruas onde, tão modestamente, acabam por ficar. A inutilidade, o sentimento de culpa, a submissão, tudo isto, acaba por ser a história que deixam. Com culpa ou não, é a vida que levam, é a vida que se lhes reservou, é a carcaça que têm de transportar, até ao fim da vida. E pensar que tudo isto, podia ter sido evitado, por um gesto mais de carinho, de amor, de caridade, de companhia…deixa-me assim, na dúvida, se quero ser chamada de velha.
Mas como em tudo, é bom chegarmos ao fim.

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