segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Perdida

Perdeste-te um dia, num mundo enorme á vista, embora na sua constelação seja uma agulha num palheiro. Um mundo de incertezas, de corrupção, de morte, de dor, de tudo, menos do que devia ser. Todos são suspeitos! Suspeitos de te terem tirado tudo o que tinhas, suspeitos por te terem extraviado, como se de um produto fora da validade te tratasses. Desapareces-te assim…ninguém notou pela tua falta. Hoje, sentem um vazio naquele recinto, onde a tua imagem se marca para sempre, nos muros e vitrinas dos cafés, onde as pessoas se sentam, á espera pacientemente de te verem passar. Há ainda a esperança de saberem de ti, mas o mais incrível, é que ninguém sabe como fazê-lo. Foste raptada? Trataste-te de um acidente dissimulado? Nem tu própria sabes responder. És ainda jovem, muito jovem, és ainda um rebento tenro, que mal se desenvolveu. Não tens consciência de que o mundo, não é o paraíso que te fazem crer que é. Onde estás? Há tanta gente que te procura, e não sabem como te encontrar. Panfletos circulam, a tua face caucasiana, de ar fresco e cor de mel, faz lembrar as paisagens campestres, de onde vens. Os olhos azuis, azuis como uma lagoa tónica, representa em ti uma certa inocência, o que acabou por te condenar. Esses loiros cabelos, de tradição britânica, marcavam definitivamente as terras das quais descendias. Todos te vêem, mas nenhuma das tuas semelhantes, és tu. Partilham o mesmo tom de pele, o mesmo cabelo, mas esses olhos que matam, só a ti te foram oferecidos. Que te aconteceu? Onde estavam aqueles que supostamente, são teus pais? Abandonaram-te, num quarto de hotel, entregaram-te a um destino que podia alterar-se. Ou será que foram eles? Ela nunca chora e ele…nota-se que é distante e suspeito! A mãe que perde um filho…perde toda a coragem. Perde parte de si, algo que sabe que é genuíno, perde a própria alma e culpabiliza-se, pela perda que não pôde ser evitada. Segue em frente, mas o vazio é tão grande, que acaba por se desintegrar do meio que a rodeia…acabando por enlouquecer, ainda que mantenha o juízo intacto. Ela enfrenta o mundo, enfrenta a comunicação social, enquanto o mundo a chama de culpada. Mas eles têm razão. Ela não. Ela sabe que a julgam, mas mesmo assim, quer ser julgada. Porquê? Haverá algo que julgar? Tu, que te perdes-te ou que foste levada para longe, tornaste-te para o mundo, uma incógnita, uma pergunta sem resposta, um livro sem páginas, um corpo sem ninguém. Um ano passou, um ano, dominado pela incerteza de muitos e pela esperança de outros tantos, que como muitos casos idênticos, se resume a uma eternidade da espera.

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