quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ensinam o silêncio

Nós calamos tudo. Andamos de mãos dadas e calamos tudo. Calamos o pensamento. Calamos o sentir. Calamos a vida. Calamo-nos mutuamente. E sem mão á frente da boca. E sem nada. Calamos o mendigo á nossa porta. Calamos o vendedor que nos toca á campainha. Calamos o ladrão a roubar só para nos sentir-mos seguros. Calamos a estupidez das pessoas. A pobreza de milhares. Calamos o roubo nos bancos. Calamo-nos outra vez. Calamos a necessidade. Calamos a mentira. Calamos a verdade. Calamos o não saber  de todo. Calamo-nos de mãos dadas. Calamos os inocentes. Calamos a justiça. Calamos a educação dos filhos. Calamos o dever de os criar. Calamos a falta de tomates para tomar decisões. Calamos a coragem. Calamos a vergonha de andar-mos de mãos dadas. Calamos o ouvido do outro. Calamos o ser sábios e nada saber. Calamos a traição. Calamos o medo que nos cospe na cara. Calamos a incerteza que nos torce a espinha. Calamos o não poder caminhar. Calamo-nos de mãos dadas. Calamos o trabalho. Calamos o tempo que nos ocupa. Calamos a vida novamente e anda-mos de mãos dadas. Calamos a sabedoria dos velhos. Calamos a calma dos politicos. Calamos os dias uns atrás dos outros. Calamos tudo. Calamo-nos de mãos dadas. Calamos a conta da água e da luz.  Calamos a comida que nos servem. Calamos o calor na barriga. Calamos a cólera dentro de nós.  Calamos o abrigo seguro. Calamos a farmácia da esquina. Calamos o tratamento. Calamos uma possível condição. Calamos a luz. Calamos a visão. Calamos a gravidez. Calamos a mãe. Calamos o pai. Calamos o aprender a calar. Calamo-nos porque sempre nos ensinam a calar.