segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Crónica de quem ama e não devia amar (Parte 1)


Se me perguntassem qual o maior mistério do mundo, eu provavelmente diria, que era o amor. O amor, é a sinfonia mais complexa, que Bethoven nunca escreveu, é a formula mais complicada, que Enstein, não conseguiu resolver, é a maravilha que ainda não se descobriu, é o tesouro mais difícil de encontrar.
Porém, há em cada pessoa, em cada humano, um pedaço de amor, um recanto submerso de tremenda paixão, um misterioso pedaço de loucura insaciável, um percurso perigoso e arriscado de ilusão, tudo isto, apenas para definir e complementar o amor. Na minha opinião, não há amor sem paixão, nem paixão sem loucura nem loucura sem ilusão. Tudo isto, faz com que o amor, seja uma espécie de missão impossível, resultante das acções humanas e dos pensamentos e frequentes desejos, que acabam por se tornar constrangedores e insólitos, numa espécie, em constante mudança e em constante descoberta.
Ninguém pode dizer que ama, porque também ninguém sabe se odeia. Mas há, sem dúvida, uma correspondência entre amor/ódio. Quem ama, odeia e vice-versa. Há sempre algo que transporta o ódio ao nível do amor. Por vezes, torna-se maior de que a própria força que move o mundo, desviando destinos e domando as mentes dos retorcidos. Estes dois sentimentos, igualam-se e entrelaçam-se mutuamente. Quem é especial, acaba por se tornar num objectivo rebuscado e por concretizar. Nunca sabemos se o alvoroço que nos causa, é bom ou mau. É algo, que permanece incansavelmente dentro de nós e que nos leva a fazer loucuras. Nunca podemos saber o que realmente sentimos!
Embora o amor nos consuma, pode fazer com que façamos parte de alguém, e com que alguém faça também parte de nós. Quando estamos com ou avistamos esse alguém, sentimos a extrema segurança e o positivismo humano, de que tudo está controlado e como deveria estar. Sentimos um consolo antiquado, de apaziguar a alma e nos parar o coração. O amor torna-nos criativos e melancólicos. O amor causa desgraça e dor. O amor torna-nos a pessoa mais feliz do mundo. Será que sim, ou que nos torna ainda mais miseráveis? O amor rebaixa-nos, faz-nos ser quem não somos, e se isso não é ser miserável, então que será? Quantas pessoas deram a vida, por amor? Quantos morreram em vão por amor? Quantos se mataram por amarem? Quantos ainda esperam amar um dia? Quantos abandonaram quem pensavam amar, por outro alguém que também amam? Se isso não é cruel e miserável, então eu vivo noutro mundo, que não este.
O amor é algo, que se desenrola do nada e nos controla numa questão de acaso. Basta um simples olhar, tímido e selvagem, de um verde melancólico e orgulhoso e de uma loucura e paixão desmedidas, para dizer-mos que amamos. Será o amor tão simples? Não, não é. Quando se ama quem não se deve amar, em vez de felicidade, luta-se uma batalha de interesses, de loucura e crime, de poder e tortura, de perda e restrição. Quantos deixaram de amar por que a sociedade assim lhes exigia? Quantos amores impossíveis retornaram do além para dizer umas ultimas palavras? Tudo por amores que não foram permitidos! E agora pergunto, devem deixar que se amem, aqueles que não o devem fazer? Claro, que sim. Porque um Deus, num suposto livro sagrado qualquer, que por uma razão desconhecida criou a humanidade, amou-nos em vez de a ele próprio. Deu-nos a oportunidade de preservar algo. O amor! Mas continuo a perguntar-me constantemente: o amor existe? Se não existisse, que outra faculdade sentimentalista dominaria o homem ao ponto de dar a própria vida? Há quem dê a vida por amor a Deus, mas há quem a dê por amor a alguém, que não ele. A vida é uma linha e os seus extremos são o amor e Deus. Deus é deveras, um assunto muito diferente. Ninguém diz que existiu, pois não há provas. Mas ninguém afirma que não existe, pois provas não as há. Por Deus, muitos não amaram, pois pensariam estar a cometer um pecado punido com a morte. Que Diabo! Pecado? É pecado amar porque assim o fez Deus? Talvez…mas em todo o caso, Deus deu a vida por nós, logo, amar é superior á própria morte. Quem tem direito de proibir, aqueles que se querem e se amam? Quem pode ditar as leis do universo e impedir o amor? Amar é algo, superior a raças, a idades, a sexos, a distinções económicas, a tudo…quem ache o contrário que experimente e então verá, que tenho razão. Que seja consciente do que faz, e ame quem não deve, quem não lhe é correspondido. Inicialmente é uma dor insuportável, mas se conseguires que esse alguém te ame, cresce em ti um outro sentimento, um ligeiro sonho que te invade cada vez, que essa pessoa te olha. Sentes ter conquistado o mundo, ter subido ao céu, ter dominado o fogo, que te tem torturado tanto tempo. Com o decorrer do tempo, vais aprendendo a controlar aquilo que te põe á prova, o amor portanto. Em vez de demonstrares todo esse amor, sentes uma angústia angustiante cada vez que esse alguém se aproxima de ti. Tendes a desviar o olhar, mas reparando em cada gesto que faz e em cada expressão que usa. Se retribuir o olhar, sorris, ou então, ignoras. É tão difícil tornares-te invisível, quando sabes que está tão perto! Ali, a dois, três passos…a olhar constantemente para ti, definida por uma sigla, que todos desconhecem e uma expressão irónica, que todos veneram. É única aquela personalidade estranha e ao mesmo tempo, cada vez mais familiar! Consigo até, antever os gestos que fará de seguida, ou o que dirá. Apesar de previsível, há em cada dia, algo de novo a descobrir. Há sempre aquele pormenor que nos escapa, aquele gesto que falhámos ou que pareceu menos importante. Mas…com o tempo…o teatro acaba… e quando não temos essa pessoa por perto, refugiamo-nos em coisas mais mórbidas, os vícios e a raiva. Os diversos vícios acabam por acalmar o ritmo cardíaco, deixando-nos menos ansiosos e mais perdidos ainda. Porém, a raiva é aquilo que eu sinto constantemente. Quero que toda a gente á sua volta, desapareça, a bem ou a mal. Perder a paciência é um limite humano, e quando os limites se ultrapassam, alguém tem de pagar o preço.
Mas…apesar de tudo de mau que convém o amor, amar fez-me perceber que o destino existe e que não se controla, embora eu tenda a controlá-lo. Amo alguém, que está fora do meu alcance, pena para mim! No fundo, sei que com o tempo o saberá, senão o souber já…?!

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