sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Professores Vs Ministra

Amanhã vai haver outra manifestaçãos dos professores! Será que ainda não perceberam que a idiota da ministra não muda mais nada? Querem tudo para eles e nós? Uma coisa é terem bons ordenados, um dia totalmente livre e horários flexiveis. Outra é quererem ser os reis do mundo!
A figura que fazem, quando andam aos gritos pelas ruas a pedir mais e mais, é tão estupenda e ao mesmo tempo tão parva, que deixa os alunos de pé atrás, quanto a noção do estatuto de professor. Qualquer dia os professores passam a receber pelas justificaçoes de faltas, pelas conversas, pelos sermões. Qualquer dia, cada aluno paga para assistir ás aulas dos V.I.P’s! Não percebo porque se queixam. São os que se encontram melhor servidos e mesmo assim exigem sobremesa! Só lhes falta chegar á escola ás horas que lhe apetece, dar aulas só se lhes apetecer, bater nos alunos (ou os alunos nos professores) e andamos aqui a aturá-los! A maioria sofre de “pancas” irreversiveis, iniciam as aulas com grandes doses de cafeína, sobem para as mesas, dançam nas aulas, olham pela janela enquanto decidem se dão ou não matéria, esquecem-se dos testes, escrevem amor com “e” no fim e depois os incultos somos os alunos! Isso é que era bom! Já vi tantas coisas, que já nem me admiro! E depois admiram-se de lhes darem nas “trombas”.
O professor é o único trabalhador que goza de multiplos beneficios no trabalho. A tarefa de professor limita-se a falar e a mandar, mas explicar está quieto! Falam e falam (dizem cada vez menos coisas de jeito), sentam-se, cruzam a perna, mandam fazer o que lhe der na cabeça e toca para a frente, que este ano somos avaliados! Se não fosse pelos professores que integram o ranking dos mais chanfrados, já tinha abandonado a escola e era eu a avaliá-los. Havia de ser lindo! Eram todos suspensos por faltas de material, por copiarem as avaliações pelos professores do ano anterior, por ouvirem musica nas aulas, por falarem ao telemovel dentro da sala, e mais coisas, que preferiria não mencionar. Mas claro, eles não seriam suspensos, porque só os alunos gozam deste tipo de retiro espiritual. Bota para a frente! Gritai para aí, que os que se riem somos nós….Pelo menos nós fazemos greves em silêncio, enquanto eles esganiçam a voz e roçam a ministra, para ver se ganham a lotaria! Pobre da coitada, que nem sabe o que a espera! Proteja-se, aconselhava-a a contratar um ou dois seguranças, um maluco qualquer pode tentar assediá-la durante a manifestação e o mais provável é ser professor!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Promiscuidade Vampírica


Algo me embarrou no braço e pediu-me que olhasse para trás. Acedi ao seu pedido e quando olhei, vi aquela estranha personalidade, que parecia consumir-me no meio da noite, envolvendo-me no manto de névoa que o cobria, trocando o esbranquiçado tom da sua pele, pela iluminação nocturna de um candeeiro urbano, conduzindo-me leve mas violentamente, até a entrada do que parecia ser uma igreja abandonada.
Lembro-me da leveza com que me tocava, do frio que me causava ardor na espinha, da pele crua e branca como cal, das mãos fortes e poderosas, daquele hálito quente, efervescente. Deitou-me sob um altar, não conseguia mexer-me…dominava-me!
De manha acordei, olhei em volta e estava sozinha. Tinha a sensação de que nunca estivera tão sozinha até então. Doía-me a cabeça e sentia uma leve e sedutora pressão sobre o meu pescoço, que sangrava. A partir daqui, comecei a sonhar com aquela máscara, que me aparecia a meio de sonhos, transportando-me até ele e por sua vez fazendo o inverso, transportando-o até mim. Era assim, que tempos e tempos depois me aparecia, sempre tentando seduzir-me e eu, desenvolvera até então, habilidades e fraquezas que até então, não descobrira.
Perdi o emprego, dificultava as relações com as pessoas, evitava a luz, não comia nem bebia de resto, tudo parecia igual. Saía á noite. Por todo o corpo, notavam-se-me as veias e o sangue que as percorria sem descanso. Apetecia-me tanto sugá-las… Queria sentir a minha própria pressão a percorrer-me! Houve um dia em que tudo se desmoronou…. Aquele tipo, que tinha conhecido a mesa dum bar, convidou-me a sair. Aquela casaca de couro, rodeava-lhe o pescoço de tal maneira, que parecia desejar libertar-se. Podia beija-lo que de nada me sabia. Queria trincá-lo, morde-lo…O desejo aumentou, estava inquieta…provoquei-o e sem ninguém notar, comecei a morde-lo….Os meus olhos esbugalhados e negros, sentiam a pressão com que sugava o pobre desconhecido, a força com que o deixava exangue. Nem uma gota lhe deixei. Nunca me tinha sentido assim, tão fortemente pressionada, era como se a fome que tinha se tivesse matado e a sede por sua vez, saciado. Sentia-me satisfeita e os meus dentes estavam afiados como se fossem marfim. Cheguei a casa exausta, caí no chão e desmaiei. Tinha a camisa manchada, da boca ainda me escorria sangue fresco…
Foi então que aquela assombração me encontrou de novo, dirigiu-se a mim, pegou no meu corpo exausto de se alimentar e deitou-o sobre a cama. Lembro-me de poder olhá-lo, de me olhar, de ser igual a ele…numa voz de sotaque requintado disse-me ao ouvido:
- Abri-te o caminho da eternidade! Agora, serás eternamente jovem, doença nenhuma te afectará, nenhum medo terás, nada para ti será impossível…

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A chamada “Geração Rasca”

Chamam-me a mim, membro da “Geração Rasca”. O mais interessante é que aquela geração que nos educou foi também a geração que nos deu o nome…Há aqui entao um dilema de compreensão entre duas gerações. Das duas uma: ou fomos bastante mal educados ou á geração anterior, lhes eram exigidos valores e ideais demasiado altos.
A chamada “Geração Rasca”, é um protótipo ainda em desenvolvimento das gerações posteriores. Por enquanto, limitam-se pelo vagabundear de manha á noite, nas ruas das metropoles, de calças nos joelhos, cigarrinho no beiço e erva no bolso, para o caso de apetecer. Mas se existem ainda duvidas, basta olhar-mos para os becos sem saída, ou então, para as famosas ruelas das antigas cidades medievais. Quatro em cada dez jovens, fumam “ganza”, erva ou os demais nomes que lhe queiram chamar. Sete em quinze, vestem-se segundo novos valores, calças cada vez mais no fundo, rotas de cima a baixo, lenços na cabeça e no pescoço, chapeus á noite, botas de cabedal no Verão, etc. 70 % dos jovens fuma, agora tabaco. E se reparar-mos bem, o numero de jovens que ingere drogas pesadas, ainda é muito baixo (isto, visto de uma boa perspectiva).
Contudo, esta “Geração Rasca” tem valores que permanecem. Continuam a deitar o lixo fora quando as mamãs lhes pedem, tomam conta de um brother quando o outro não pode, ajudam a atravessar a avózinha na passadeira com medo de perder a herança, tentam poupar para se mostrarem interessados pela crise, leêm livros de pirataria para aprenderem pelo menos um oficio na vida, vão á escola para darem ênfase áquilo que aprendem nas ruas, engaleiam-se para treinaram para o karaté, aprendem a escrever para falsificar assinaturas, fumam mas é sempre só para experimentar, apanham “borracheiras” mas nunca é culpa de quem bebe mas de quem oferece, ouvem musica cada vez mais pesada para gastarem energias, mudam de companheiro como quem faz coleção de moedas, ficasse sempre com a mais barata, a única coisa na vida que tem algum interesse, é saber que são limitados, que têm de fazer tudo agora, porque o tempo não espera por eles.

O birolho do Camões

É estranho ser-se tamanho poeta,
Fazer de ele mesmo uma lenda…
E tornar Portugal no Império que nunca foi!

As armas e aos baroes assinalou com certeza…
Cantou os nossos reis e navegadores, como se fossem
Porventura, os melhores de sempre!

Nacionalismos exaltou, somos bons e bons seremos!

Deixou de parte o pobre Alexandre, coitado…
Tanto trabalho para ser esquecido por um lusitano.
Fez esquecer os antigos e as antiguidades,
Para trazer ao mundo a nova tendencia do século XVI,
Ser português!

As musas tiveram entusiasmo,
E alevantaram o maior valor de todos,
Pelo menos pensava ele!

Invocou as Tágides, pobres ninfas…
Tanto este homem aturaram!
Relatou o concilio mais importante…
Muito mal devem ter dito do mundo!

Dedicou tudo a um homem….
Enquanto porém,tudo dedicavam todos ás mulheres!
Salvou-se dum naufragio,
E perdera numa batalha o olho,
Aquele olho que lhe falta sempre!

Como resultado temos uma estrondosa parede com uma enormidade de cantos!
Uma obra rica, simbolicamente escrita e pensada, para que fossemos para sempre lembrados, dividida em 10 cantos, ou fluentemente, em dez partes.
Que estavas a pensar, parvalhão?
Trata-se d’Os Lusíadas…
E daquele birolho impecavel e bastante simpatico, que todos conhecem.

Incerta cativa


É um fascinio observar-te. É uma loucura intensamente povoada de momentos recordatórios, olhar para ti. É uma tortura cada vez mais intensa, sentir-te perto. É uma insanidade completa e a cada passo mais frequente, poder ver-te e não te poder tocar. És um tesouro tão valioso, que com o simples toque, temo que percas esse valor único. É o mesmo se fosses uma borboleta colorida, se te liberto sou mágica se te faço cativa, perderias as cor. Que fazer contigo afinal?
Não me pedes que te liberte mas não queres tentar ser para mim cativa, porquê? Anseio que me digas algo, que me dês uma resposta, ou que me libertes ou que me catives para te cativar depois.
Imagino possuir-te de tal maneira, que deixavas de respirar, como se fechasse a colorida borboleta entre as mãos e asfixiasse lentamente. Imagino seres minha, falar-te sem preconceitos, tocar-te sem dilemas nem preocupações, beijar-te sem pedir se posso fazê-lo, aquecer-te quando apertas o casaco de frio, curar-te ou adoecer contigo, acariciar-te quando a dor te invade, seres minha e eu totalmente cativa aos teus desejos. Podia sê-lo se assim o desejasses. Mas nesse teu mundo, a precupaçao é outra. Não queres que te cativem nem te deixas cativar, porque o que interessa é a vida que levas e que está aos olhos de todos.

S.O.S (We need to wake up)


Á custa de uma musica pobre e com significado abstracto, dei-me conta de que realmente, o mundo em que vivemos, está-se a desintegrar a cada passo que damos na evolução. Al Gore, levantou suspeitas disso mesmo, enquanto era nomeado para um cargo qualquer, com “Uma verdade inconveniente”, porque a nossa realidade é realmente uma verdade, é real, está neste momento a destruir-se, a ser destruída. Inconveniente porque de certa forma, os unicos culpados somos todos nós, humanos consumistas e altamente desinteressados pelos problemas ambientais…não é nada conveniente, que a culpa se nos seja atribuida, até porque por muito mal que estejamos a fazer, continuamos cá e ainda vamos ser parte deste mundo, por varios séculos. A verdade, é que com tantos problemas nas nossas vidas, o stress, o trabalho, os filhos, a luta pela sobrevivencia, os amores, o dinheiro, não nos resta na consciência, espaço para tão pequeno problema, como é o Aquecimento Global! “I need to wake up”, sim preciso eu e todos, é mesmo falta de senso comum, olhar para a natureza sensivel e inquieta, a desintegrar-se aos poucos, só porque todos somos descuidados…
Mas tal como nós, a natureza tem os seus próprios métodos defensivos….ataca o ser humano, tão mutuamente, como este a ataca. Manifesta-se, levando consigo milhares de mortos, humanos que pagam pelo descuido de todos...
É miseravel ter-mos sido tão inconscientes, ter-mos estado adormecidos por tanto tempo! É curioso como, nas consequências dos nossos actos hoje, pagarão amanha os nossos filhos, os nossos netos e por sua vez, pagarão os filhos e netos destes, se ainda houver um mundo!
Gerações de homens foram os causadores da desvastidão que é hoje o mundo e gerações pagarao pelos males de autrora. Respondam ao S.O.S!

Vida de velho


Dói-me saber que um dia, tudo o que fomos, tudo o que fizemos, tudo aquilo por que lutámos, não será mais, que historia. Deixaremos de ser um corpo hábil, engenhoso, ágil, caloroso, macio, jovem, para passarmos a ser carcaça enrugada e cega, imunda de mágoa, tristeza, solidão, amnésia, doenças incuráveis e com a morte a espreita. É uma volta repentina, de mais ou menos 10 anos, mas que dura muitas vezes, muitos mais. Passamos de jovem a velho, e o que mais magoa, é passarmos na rua, e ser-mos chamados disso mesmo: “Olha o velho!”
Ser velho, é realmente doloroso, quando perdemos a juventude, tão rapidamente como a ganhámos. Não podemos correr, pular, esquecemos muitas coisas e até ler histórias aos netos, se torna numa missão impossível! Isto quando se tem netos…
Mas há quem diga, que a velhice não é difícil, é um castigo. Aqueles que caem numa cama de hospital, sem filhos que os ajudem, sem netos que se interessem, sem amigos que os acompanhem, para estes sim, a velhice é um castigo. A solidão, corrompe-lhes a alma, a mendicidade, transporta-os pelas ruas onde, tão modestamente, acabam por ficar. A inutilidade, o sentimento de culpa, a submissão, tudo isto, acaba por ser a história que deixam. Com culpa ou não, é a vida que levam, é a vida que se lhes reservou, é a carcaça que têm de transportar, até ao fim da vida. E pensar que tudo isto, podia ter sido evitado, por um gesto mais de carinho, de amor, de caridade, de companhia…deixa-me assim, na dúvida, se quero ser chamada de velha.
Mas como em tudo, é bom chegarmos ao fim.

Falhada

És a minha vida, és tudo por que luto, porque sei que te amo.
Por muito que me resistas, nunca vou desistir e para sempre vou ter pedaços teus, recordaçoes, memórias, frases e expressões, que lembrarei para sempre. É inútil tentar esquecer-te, não consigo. Conseguiste fazer de mim, uma falhada, porque pela primeira vez, sou derrotada pelos mesmos ideais que desprezo e pela pessoa que secretamente amo, e não consigo assumir a minha derrota. É mais forte que eu, mas tento-me a acreditar que ainda é possivel, que ainda poderás amar-me, como eu te amo, reparar em mim, como eu reparo, decorar-me, como te decorei, pensar em ti, como pensava e ainda penso.

Na margem da saudade


O rio chora porque estou triste. Sente a presença da saudade a corromper-me aos poucos. Entranha-se como se sempre fizesse parte de mim, procura o pior dos meus pesadelos e oculta-me o derradeiro destino. Não é o Douro. Não há esgotamentos nem lágrimas que nunca chorei. Agora sou eu longe e ela, nem tão perto. Trocámos de lugares, a saudade persegue-me! Sabe sempre onde me encontrar e invade-me sem razão aparente. Mas a verdade, é que desde que se foi embora, um vazio, que frequentemente me invade, quando está longe, de preocupação ou de outra essência qualquer, iniciou a sua nova jornada, levando-me a fazer dos tempos que ainda gozo, um profundo e interminável inferno. Foi ontem, que se foi embora. Porém, sei que desejava ir. Não a condeno, não a censuro. Apenas sinto a falta dela, sempre que não a vejo. Tortura-me aquela sensação de ironia em falta, aquela preocupação acrescida por tudo e por todos e aquele irrequieto estado da alma, de achar que nunca nada está, como devia estar. Habituei-me a ouvi-la, a vê-la, a lembrá-la e agora, nem a minha própria vida, ponho á frente da dela. Posso até dizer que ela me comanda, como um joguete, daqueles joguetes que ainda não sendo totalmente controlados, desejam sê-lo ainda mais.

Ética de um erro

Ás vezes sinto-me completamente irónica, respondendo a questões de maneira cismática, de forma imprudente, dizendo coisas, que talvez fosse melhor não dizer. É bom saber quando devemos falar, quais as situações, para as conversas mais complicadas, é bom apercebermo-nos das opiniões alheias, do que pensam e do que podemos pensar.
Ter uma realidade daquilo que somos, daquilo que és, daquilo que sois, é meio caminho percorrido, para não dizer andado, para atingirmos a perfeição. Se bem, que na maioria dos casos, os erros não são reversíveis! A reversibilidade é única e poucos a possuem…todos somos erros, todos cometemos erros, todos queremos não comete-los, mas acabamos sempre por o fazer. Dizemos sempre algo, que mais tarde se torna um erro, fazemos sempre algo, que mais tarde nos arrependemos, magoamos sempre alguém, a quem mais tarde nos rendemos, lutamos sempre por algo, mas poderíamos ter feito mais, ignoramos pessoas, que naqueles momentos, são elas que nos fazem sentir vivos, desperdiçamos oportunidades por motivos que para nós, são mais fortes, negamos favores, amores, pedidos, que talvez depois se vejam concretizados por outra pessoa no nosso lugar, desligamos do mundo e o mundo desliga-se de nós.
Como é irónica a vida! Acabamos por ser nós os culpados, pela nossa própria má sorte, pelo azar tão aclamado e simbólico. As escolhas de vida são, foram e sempre serão difíceis, porque a maioria das situações complicam-se com o tempo.
Quanto mais tempo pensamos na resolução, a enormidade do problema aumenta. O problema deixa de ser um só, para passar a ser cara de muitos. O tempo não passa sem deixar marcas.
Contudo, a maioria dos problemas são causados pelo ser humano, que pensa demais e não age. Pensar seria bom, se em certo caso a matéria fosse ciência ou escrita criativa. O que acontece é que na vida, pensar é uma perda de tempo…Quanto mais pensamos nas consequências maiores parecem os erros, mas acabamos quase sempre, por comete-los. Daí ser-mos nós próprios o erro, daí termos nos próprios a culpa…! Porque afinal somos nós quem decide e de certa forma, culpar outro pelos nossos erros, é pouco ético.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desejo nocturno

E naquela noite, nevava e nevava, sacudia dos ombros a cada segundo, camadas mais ou menos espessas de neve, que me cobriam de um manto neutro e lácteo. As mãos quentes da neve fria, quase queimadas pela frieza da mesma, levavam-me a boca a neve gelada, que sabia a um composto químico, insosso e sem corantes. Parecia-me um prato mal cozinhado que se come, quando estamos com febre.
Peguei num floco de neve! Pus-to entre os lábios calorosos e esguios, quando ao mesmo tempo, te beijava. Eras tão matreira que tentavas esquivar os meus beijos, renunciando a este nosso amor, e todos os beijos que enviava a teus lábios, embatiam fortemente no teu pescoço, que começava a enfraquecer de tanto ser beijado.
Sentia-te mais perto que nunca, podia abraçar-te, beijar-te, tocar-te, podia até obrigar-te a fazer aquilo que eu mais desejava. Mesmo assim não te entregavas a mim, lutavas e lutavas para negar tudo aquilo. Tentavas falar numa língua que não entendia ou preferia não entender, mas depois beijava-te e enquanto me entrelaçava em ti, e te aquecia daquele frio húmido e gélido, acabavas por ceder, e retribuías com doces carícias e beijos húmidos, que me faziam pensar como tudo por que tinha lutado tinha valido a pena. Ninguém nos observava, era de noite. Abrigamo-nos num recreio, á espera que o nosso desejo, parasse a neve. Encostei-te aquela parede, beijei-te de novo. Como eram bons os teus beijos! Quanto mais te roubava, mais tu me davas!
Embora também me desejasses, a cada beijo, abstraias-te e tentavas resistir. Desapertei-te o casaco, e rodeie-te com ambos braços, por dentro dele. Toquei-te e senti que a pressão se cruzara com o desejo que ambas sentia-mos. Beijámo-nos por algum tempo, mordi-te varias vezes, até que me impedis-te de o fazer. Tinha parado de nevar, e fizeste-me um pedido….Levei-te para casa, para a tua casa, deixei-te á porta…Cansei-me que tentasses negar….!
Quando me vinha embora, chamas-te por mim. Finalmente, percebeste que não me querias deixar ir. Corri para ti e beijei-te com toda a força que tinha. Empurrei-te contra a porta, entrámos.
Finalmente, tinhas-te revelado, embora eu sentisse que seria impossível.

Cronica de quem ama e não devia amar (Parte 2)


Como a primeira parte até teve sucesso, decidi por obra das musas que me inspiram todos os dias, sim… porque eu escrevo todos os estupendos e sarcásticos dias da minha ingénua vida, reflectir de novo, dando a conhecer uma outra perspectiva do que acho ser importante conhecer do ponto de vista humano, o AMOR. Pode parecer idiota, que uma rapariga mal formada, com 17 anos, completamente revoltada por natureza e com sangue nas veias, escreva sobre assuntos tão escabrosos como este. Porém, a verdade, é que o amor é para mim, relativamente novo, e tudo que é novo, dá-se a conhecer. É basicamente, a mesma reacção, quando compramos uns novos jeans. Á primeira impressão, são rudes, básicos e praticos como todos eles são. Mas quando começam a elogiar-te, a dizer que mudaste, que os jeans te mudam, que estás diferente, aí notas, realmente que são novos. Quando amas alguem, por muito rude e pratica que sejas, as coisas vão tornando-se complexas, e a maneira com que as enfrentas muda, tornas-te mais calma, mais sensivel e sensata, compreendes o mundo e a vida de maneira diferente, pensas até, que o ser humano,a final de contas não é eterno, embora, muita pobre gente, pense que sim. A maioria tem a errada percepção, de que tudo é adiavel. Mas é urgente o AMOR! O amor equivale-se se quiserem, a Jupiter na mitologia, a Ulisses na Iliada,a Einstein na Fisica Quantica . Jupiter era o pai dos deuses, como o AMOR é o pai de tudo que existe. Embora tenha varias maneiras de ser visto, o AMOR é sempre a arvore, nunca o fruto. Mas dá frutos, e bastantes! Ulisses era um conquistador, um rei, um heroi ficcional, uma narrativa pouco viavel, mas que perdurou atraves da historia. O AMOR é o tempo, porque quando amamos o tempo esgota-se facilmente, o que não acontece se não se ama, o tempo dura, dura e dura, como se se adiasse a ele proprio. Por ultimo, Einstein é o génio, o fisico dos fisicos, uma mancha de estonteamento ajuizado. Contudo, criou e desenvolveu a teoria mais importante que alguma vez existiu: a Teoria da Relatividade. O é também o AMOR. O AMOR é louco, é passional, é pecador, porém, sabe bem. É também engenhoso. Amando alguem, o poder dos feitos humanos é infinito, tudo é possivel, tudo é então, relativo, não existindo portanto, verdades chamadas cientificas ou absolutas.
Contradizendo a minha ex - opinião, a pessoa que se ama, nunca é inalcansavel. Dizem, que o feito mais complicado dos humanos, de nós mesmos, é esquecer. Esquecer não quem amamos, mas aprender a esquecer, quem aprendemos a amar. É uma charada! No entanto, verifica-se verdadeira…Amar é aprender a compreender, a conhecer, a aceitar, a aconselhar, a respeitar. Aprende-se facilmente, mas esquecer tudo isso, quando alguem já te é tão familiar, embora pouco saibas sobre essa pessoa, é mais complicado do que parece. O problema está a meu ver, na maneira como aprendemos a amar. Quando ao inicio, tudo é “um mar de rosas”, em pouco tempo, as rosas secam, porque a água do mar é salgada, ainda que encharcadas estejam. O mesmo acontece com o AMOR, que duvido muito ser eterno. O AMOR começa do nada, geralmente, as pessoas conhecem-se o suficiente, e procuram sempre amar alguem o mais compativel possivel em interesses e em opiniões. É o tipico dilema, do que tu gostas eu também gosto!O problema reside aí…O ditado dos opostos que se atraem, não está totalmente errado. Duas pessoas que se amem, e que alegadamente partilham os mesmos interesses, vamos supor de que, nada há a conhecer entre elas. As conversas são desnecessárias, tendo em conta, que ambos dominam os mesmos assuntos. Em pouco tempo, a conversa não existe, a atenção desmazela-se e o AMOR, vai murchando. No fim, os dois reparam que são iguais, que não há nada que os mantenha unidos, e acabam por aperceber-se de que, todo aquele tempo, foi perder opurtunidades, foi infeliz, foi semântico.
Porém, o mesmo está longe de acontecer, para aqueles que seguem o ditado. Tudo há a dizer, têm assuntos diferentes de conversa, um domina desporto, outro moda, e aprendem-se mutuamente, descobrindo aquilo que a cada um importa, sabendo o que cada um tem de diferente, de especial, que os faz ser aquela pessoa singular e única. Embora tenham opiniões e ideias diferentes, não significa que tenha que haver uma clima de guerra. O dialogo é necessário, para além da atenção e da mutua compreensão. Até pode ser interessante partilharem experiencias, e levar um, não a gostar, mas a perceber porque aquilo é importante para o outro.
Eu digo, que quanto mais diferentes, melhor! A conversa dura, a atenção permanece, o AMOR cresce em vez de murchar.
É estranho ouvir-me a mim mesma falar de AMOR, quando amo, não sou respondida e ainda por cima, é um AMOR de novela, hipoteticamente impossivel. Por ventura o é, se deixar-mos que seja. É um AMOR diferente, um AMOR pouco comum. No que a mim respeita, começou por um odio doentio, que com o tempo, se tornou no que é hoje: AMOR. Se realmente fosse impossivel, haveria uma barreira empatica, que não me tinha permitido ama-la.
Não percebo, mas amar alguem, não oposta, mas que mal conheço,é obra! E das grandes! Conheço-a tão mal, e mesmo assim, isto persiste. Como o AMOR é estranho, como é matreiro e manipulador, como me faz expor-me de tal forma, como nunca pensei faze-lo! A duvida ainda persiste, mas a certeza, domina-me cada vez mais.
Ao contrario do que disse, quando achava tudo isto impossivel, quando olhava para ela e via uma frieza assustadora, incapaz de sentir, agora afirmo com toda a certeza, de que se deve sempre arriscar. Deve-se sempre ser capaz, ter coragem para falar. Contudo, por muito forte que sejamos, o medo, a ilusão, a vergonha, levam-nos sempre a regressar ao ponto de partida, ao zero. Nunca escolhemos bem, tomamos sempre a pior decisão e o arrependimento vem depois. O senso comum fala sempre mais alto, mas talvez, se deva dar ouvidos, não apenas a este, mas ás nossas vontades e desejos.
O AMOR é um risco, que todos devemos correr. É um turbilhao de problemas: o ciume, a falta de tempo, a carencia, tudo isto não existia se não existisse o AMOR. O ciume é incrivel! Acreditem ou não, embora não me sinta como tal, sou uma ciumenta cumpulsiva. Isto quer dizer que, o ciume nasceu comigo…é parte de mim, como um membro estraviado, que se me aconchegou. Não me admira. Todos os males do mundo me caem em cima, e só agora me apercebo. As vezes pergunto-me se não havera por aí, uma outra Caixa de Pandora, ou se a propria, não estará apostando a minha vida algures. Maldita curiosa, que condenou o mundo e corrompeu a sociedade!
Amar não é para todos. Nem todos amam, porque muitos não conhecem o AMOR. Mas agora que eu o conheço, e tenho a mais pura das certezas, de que é AMOR, porque fui racional, porque pensei antes de agir, porque tomei a decisão correcta e não cometi nenhuma loucura, anseio por amar. É curioso mas o AMOR contagia. Não posso dizer que me tenha contagiado, mas fui seduzida sem me aperceber e sem jogos, sem manipulaçoes, naturalmente. Contudo, comecei um jogo,quando lhe disse. Um jogo engenhoso e ignorante, em que cada olhar, é uma jogada, cada sorriso é uma ideia, cada palavra que não digo, é um plano, cada vez que a vejo,que me vê, nunca é coincidencia. É um jogo sem adversários, sem jogadas finais, um jogo em que eu decido o proximo passo, um jogo que eu manipulo conforme assim o desejar. Nada é coincidencia. Neste jogo, ao qual tão engenhosamente dei inicio, sou eu que lanço os dados.
Pode parecer desnecessario, mas devo ser uma das unicas pessoas no mundo, que não sofre por AMOR. Frequentemente, penso nela. Falo bastante sobre ela. Mas nunca parei para sofrer um pouco que seja, porque sou frenética, não tenho tempo para sofrer, mas perco o tempo que for preciso por ela.
Admiro-me pelo meu feito. Conhecendo-me como conheço, nenhuma outra pessoa me faria fazer o que que fiz por ela. Sendo ela quem é, estranha-me saber que o fiz. Ganhei-me, surpreendi-me a mim mesma. Tomei uma decisão, que me afecta todos os dias, talvez seja isso, que não me deixa sofrer. Sendo ela quem é e estando la no topo, dá-me tremendo entusiasmo e gozo saber que ela passa por mim e sabe que a quero. Nunca me deu uma opinião, mas parece-me levar este assunto a brincar! Acho que é isso que me move, saber que nunca me levará a serio. Acho sinceramente que o meu AMOR por ela, não seria igual, se ela se oferecesse, se ela fosse diferente, porque a simples ideia de ter um tesouro e não poder tocar-lhe, encendeia os animos.
Em suma, deve-se amar, nem que para isso sejam necessárias algumas jogadas engenhosas, como é o meu caso. Nada é inalcansavel. Ninguem é intocavel. Se as boas decisões forem tomadas, algum dia darão frutos, algum dia o AMOR valera a pena. Mas nada poderá ser feito, se não formos nós a mandar no jogo.

Confidentes

Já tudo me faz lembrar-te! Às vezes, comento com as paredes, como és sólida e madura, como és dura e resistente. Quando se cansam de ouvir-me, geralmente saio, para que quando volte, possam ouvir-me de novo. É aí, que me dizem que te conhecem, que tanto sabem sobre ti! É natural, tudo de ti lhes conto. No meio destas conversas, a viola se intromete. Falo-lhe de ti e doce, leve e apaixonadamente, vai compondo uma melodia irónica e infinita, pega nos meus dedos, pede-me que acaricie suas cordas e juntas, fazemos um belo e sonante dueto. As paredes ciumentas, calam-se! Começam a ignorar-me e deixam de me falar. O ciúme não mata. Ai, se matasse! Ao ritmo da melodia, vão aparecendo retratos teus. Que vaidosos, por terem teu rosto! Se acham primogénitos de uma família numerosa. São tantas as recordações…A viola enfurece-se! Ninguém te conhece melhor que os retratos…têm tuas linhas, tua expressão, teu sorriso e teu olhar, são realmente genuínos, pertencem-te! Depois quando a viola se cansa, a saudade manifesta-se, acolhe-me em seus ombros, desperta-me ilusões adormecidas. Costumo falar-lhe! É com ela que costumo chorar, é ela que me faz confessar, é por ela, que sei que te amo.

Carta momentânea

Querida Tia:
Queria dizer-te que nunca falei muito de mim, e que portanto, agora o faço. Foste como uma mãe, que tive, mas que não era suficiente. Encorajaste-me, quando as forças me faltaram, deste-me tudo aquilo que estava nas tuas possibilidades dar, foste mais do que um suporte, uma guia. A minha vida transformou-se num caos…perdi aquela pessoa que amava, que nunca cheguei a conseguir…perdi aquela amiga que tanto me apoiou…renunciei a tudo por nada…tomei as decisões erradas e rejeitei as mais acertadas…tive um acidente, estou á beira de um precipício, e queria avisar-te que me junto a ti. Para a minha chegada, não quero lágrimas de ninguém, não quero luto, não quero escuridão nem incertezas. Queria que o mundo mudasse, queria criar uma realidade utópica, mas verdadeira, baseada naqueles ideais que tanto me implementaram, e que acabei por seguir, embora me estivesse no sangue, a revolta e a contestação. Queria que a vida que levei fosse respeitada pelos que ficam, queria que pensassem que, por muito insignificante que tenha sido esta vida, há a possibilidade de haver outra, onde, todos os erros e decisões tomadas sem pensar, possam ser remediados. Queria que sentissem a minha falta, porque também eu vou sentir a deles. Queria que soubessem, que enquanto vivi, porque sei que desta não me salvo, que fui feliz, embora o facto de que, não fiz coisas que gostava de ter feito. Perdi á partida, aquela pessoa que me iluminava mesmo num dia escuro, porque na realidade, nunca soube o que realmente sentia. Nunca lhe disse, e estou arrependida, mas só agora percebo a expressão “A vida são dois dias”, e os meus dois dias, terminaram. Era tão diferente de mim e ao mesmo tempo, tão inacessível! Guiei-me pelo que achava certo, pelo que os outros achavam certo e acabei encharcada de remorsos e de arrependimento. Sabes Tia? Amar é o melhor que há na vida. Embora não lhe tivesse dito o que realmente sentia, por si só, fazia-me feliz. Sei que se lhe aperta o coração, neste preciso momento, porque também ela, e agora sei, sentia o mesmo que eu. O destino é tão cruel e o mesmo tempo tão amável! Queria também, que todos aqueles que me conheceram, se lembrem de mim no meu melhor, se lembrem de quem eu era e não de quem poderia ter sido. Porque apesar das contrapartidas, acabei por ser alguém, que encaixava no meu corpo próprio, como uma moldura na parede. Não chores Tia! Acho que te vejo, mas não tenho a certeza se és tu. Sigo em frente? Espera…afinal não morri! Estão a tentar acordar-me! Tia, vou poder remediar os meus erros…vou poder dizer que amo…vou ser quem deveria ter sido…vou adiar este momento, porque sei que apesar das saudades, ainda me faltam coisas a fazer! Adeus Tia!
Até breve.

Abraçando o tempo


Recordas-me um lírio abandonado,

Á beira de uma cabana enrugada e lascada!

Envelheces tão rapidamente, quanto mais rápido cresço eu!

Medir-me-ás tu, amparar-te-ei eu!

Porque tu és o lírio que morre e eu,

O malmequer que cresceu!

8 De Junho

É nestes dias, chuvosos e significativos, que realmente vejo a falta que me fazes. Tento ocupar o tempo, em coisas supérfluas, mas é impossível não pensar, um segundo que seja. Depois penso, na distância relativa que nos separa, embora se reduza cada vez mais. Contudo, apesar da distância, a alegria por saber que tu existes, é já suficiente para mitigar a tristeza de não poder estar contigo. A tua essência, chega-me para me resumir a uma imagem, a uma memória, a uma recordação. O meu amor, é somado, jamais subtraído, sendo multiplicado e contigo dividido. É uma lei, que me tenho habituado a seguir, embora a concretização esteja longe. Porque é que o destino nos separou assim? Deixou-nos em margens diferentes e não há ponte que seja, que me permita chegar a ti. Tento acreditar que há, mas a verdade, é que quando se acredita no impossível, acreditasse em mentiras sem fundamento algum.

A morte aparente do amor

Ainda longe, sentes a minha agonia, embora tentes negar, que de certo modo, isso não acontece. Tento refugiar a minha dor, o meu fracasso em ter-te, noutros braços que não teus, mas no fundo, tudo isso não passa de tempo mal passado, de pecados cometidos, de beijos sem significado, de momentos crus e insossos. Sabes que te amo e isso não mudara, o tempo não cura amores não correspondidos, e nem eu quero, curar-me. Sinto-te a cada dia mais perto…sinto-te a cada passo, mais longe. Anseio por ver-te, anseio por falar-te e por saber, o que me dirás depois de tanto tempo de espera. Passaram-se dias e dias sem saber nada de ti, sem te escrever, sem te falar. Destruí a tua noção de limite, impondo a minha própria. Contudo, não a ultrapassarás. Sabes que o amor, consegue ser tão persistente que nem nós sabemos, aquilo de que somos capazes de fazer. Espero tantas vezes por ti, naqueles lugares onde costumava ver-te, mas com a certeza, de não te ver. Sei que estás longe, sei que não olhas para mim como eu te olho, mas para mim, ter-te como amiga, não é suficiente. Não posso controlar este desejo, de te beijar, de te tocar, de seres minha. Nem quero sequer, não posso chegar-me perto, não consigo ver-te sem te falar, sem estar contigo, sem sonhar mil sonhos, sem realidades aparentes. Amo-te tanto, que pensei que fosse obsessão! Mas, constatei que o amor, era realmente amor, que possivelmente podia amar-te. Estou louca por ti, tomara eu, que pudesses curar esta minha loucura. De certo, saberias como faze-lo…!

Distância temporal

Um dia acordei e vi-me mergulhada num oceano distante, no qual a distância, não se ultrapassa por um simples remar até á margem. A distância é tão grande, que nem pela simples vontade de ser ultrapassada se apaga. É como uma luz intensa, que com o tempo, se incendeia mais e mais, tornando-se mais forte a cada dia. Constatei que a distância ultrapassável, estava errada. Era impossível chegar á margem, chegar a ti. As margens em que nos encontra-mos, afastam-se, com cada olhar, com cada sorriso, com cada palavra, com todos os gestos, que estão dispostos ao sacrifício, para nos unir. Esta distância, faz-me pensar, que devemos valorizar cada momento, cada parte de nós, cada recanto das memórias, que tenho tuas. A distância é uma chama viva, com que todos nos acabamos por queimar. Porém, age como o vento, apagando as paixões mais fracas, e incendiando as mais fortes. Sem dúvida, me incendiou e neste tempo, de sol quente e ares fervorosos, a chama continuará viva, alta, emergente, como prova, como símbolo, como testemunha, do que realmente, secretamente sinto. Tenho a certeza, de que um dia, essa chama extinguir-se-á…mas, será hoje? Amanha? Quando afinal? Darwin, analisou a teoria continental, explicando que, duas margens que se afastem, algum dia, voltarão a convergir. Com sorte e algum rigor cientifico, as nossa margens voltarão a unir-se, eu voltarei a encontrar-te, e dir-te-ei tudo aquilo, que agora, não tenho coragem para dizer. Aqui, além, hoje, num outro dia, num outro tempo, numa outra vida, a distância será encurtada, quanto mais não seja, para te rever de novo.

Fantasma

Assombram o ser…mesmo sabendo que lhes resistem!
Fantasmas, sei que és tu!
És tu que me controlas como um joguete de criança, que ainda liberto, se entranha nas tuas garras como uma afiada navalha nas entranhas de alguém!
Tu és o meu fantasma! Eu sei que me persegues, porque ainda longe te aproximas, pelo intenso viajante, que te trás até mim…
Nem com as montanhas e vales, nem com o mar pelo meio, te afastas!
Deixa-me descansar, restituir minhas energias, para mais tarde, continuar a luta, contra essa obsessão, que me tens criado!
Crias-me tamanhas obsessões, alargas minhas feridas ainda mal curadas, procuras tudo de mim, as minhas dores, os meus pensamentos, os meus sonhos, invades-me como se não tivesse direito de privacidade, entras em mim, como a flecha do Cupido, que me corrompe de ardor querido, de paixão fortalecida! Que queres de mim afinal?
Sai! Afasta-te! Não serei mais o joguete que queres que seja!
Não conseguirás terminar o que começas-te…porque a luta nunca terá fim!
Sabes que apesar de não querer que me tentes, eu quero ser tentada! Quero-te! Mais que a distancia que nos separa, mais que a hierarquia social que respeita-mos, mais que todas e qualquer uma regras, que nos são exigidas…!
Apesar de te tornares num fantasma, apresentaste a mim, como alguém, que deveras longe e sem possibilidade de proximidade, me sustém, num mundo em que nem ele próprio tem sustento…agarrando-se a linha imaginaria que traça, durante 365 dias, pelo espaço que se governa pela lei da gravidade, que faz de nós, humanos, seres caminhantes.

Outrora próspero…hoje miserável

Tenho pena de mim! Sinto uma irremediável pena, por me chamarem portuguesa…Que país é este em que vivemos? Um país como este, saído de um Comic de banda desenhada em que os heróis são o Cristiano Ronaldo e o Nuno gomes, que querem eles? Aclamam, fazem contas á vida, e reparam que há uma crise, pronta a estabelecer-se, o que tornará mais difícil a sua dissipação. Que novidade! E que fazem? Nada! Que hão-de fazer? O Zé Povinho sempre foi pobre e contenta-se com o simples facto de continuar ainda mais pobre…Isso querem eles, estar lá no poleiro com um harém de galinhas atrás…Isto é biologia! Senão olhem como eu, e verão que o Sócrates é o galo, e claro, como qualquer governante de capoeira que se preze, tem um bando de galinhas atrás que nunca mais acaba. E o mais incrível, é que em vez de ser o herói é o mau da fita...e depois as pobres das galinhas, seguem o seu mau exemplo e são corruptas: mandam cortar as despesas aqui, cortam os ordenados além, querem poupar nas despesas médicas, deixam morrer metades sem urgências, querem crianças que inovem o país, fecham as maternidades, mas afinal andamos aqui a brincar aos cowboys? No Comments, acerca do preço do crude! Que país querem eles afinal? Já percebi, querem que nós, os pintos, trabalhem para eles, para que as galinhas e o galo, fiquem a chocar ovos todo o santo dia! Santa Paciência! Nunca ouviram falar em incubadoras? Abram mas é os olhinhos, e revoltem-se, façam manifestações, porque não dar o bom exemplo? É isso que precisam as criancinhas de hoje em dia, deixarem de acreditar que aqueles parvalhões que falam na televisão, são os heróis, e meterem na cabeça que para mentirosos, já chegam o Bush e o Bin Laden, que valem por metade. Amantes do catano! Senão seguirem o meu conselho, correm o risco de se tornarem adultos, e de terem a vida dos papás, trabalhar com baixos salários, horas extra se for preciso, e bota a abaixo, que os que interessam são os que lá estão! Das duas uma, ou arranjam outro galo e outras galinhas, ou corremos o risco de a capoeira ser levada pelo Katrina…ou pelos espanhóis, que finórios mas espertos, sempre souberam aproveitar as crises, para nos por as patas em cima…!

Nascente de mim

É bom saber que uma nascente, após anos de intensa e prolongada secura, volta a brotar de novo, límpida e natural, como se o altíssimo, lhe desse o Dom divino da regeneração!
Um Dom que, demorou a chegar, interrompido pela frequência dos satélites em orbita, através do espaço e de todo o Universo, mas que finalmente entrou na atmosfera humana, que para os menos complexos, se chama alma. A nascente e o Dom, complementam a pessoa que és, tornam-te aquilo que os outros querem que sejas, fazem-te parar de “brotar”, para “brotares” para a vida, como a nascente brota em direcção ao mar.
Carrega no seu leito, anos de intensas historias, sucessos e desventuras, amores e ódios, que com a longevidade, se perdem, ficando pelo caminho, ocultando-se, para que novas oportunidades te invadam.
Imaculada e verdadeira nascente! Que sabes sempre a rota certa, o caminho a tomar, embora te subdividas em braços, que se demoram a juntar. Juntar tardio, mas que veio finalmente, percorrendo esses olhos de água contaminada, pelo pudor e indiferença dos teus dias, intenso tédio de rotinas irremediáveis e esperança, que liberta ao vento, uma chama de depressão, que começa já a extinguir-se.

O Canto

Estou sempre ali! Sempre á espera que venhas, para te ver uma última vez, antes de remar até casa. Sei que o oceano que até lá me leva, me pode mergulhar nas suas águas profundas e de finais incógnitos, e não voltaria a ver-te. Não correrei esse risco!
Aquele canto, sem nome, sem identidade, tem-se tornado o meu canto, o nosso canto, a testemunha do meu tédio e da minha dor romanesca. É incrível, como nunca me canso de sofrer ainda que os meus lábios sorriam, ainda que os meus olhos brilhem e mesmo, ainda que pensem que é impossível que me veja envolvida numa trama de tal enormidade! Aquele sítio, lugar, ao qual chamo “canto”, coberto por uma camada espessa de cimento e azulejo uniforme, protege-me das tempestades e do frio, que teima em me congelar. O vento sussurra-me ao ouvido, de um lado ao outro do largo corredor, enquanto eu, sentada e encostada a um recanto, penso numa maneira de te ter e numa forma de te dizer aquilo, que á muito te quero revelar. Ás vezes, sozinha, de cabeça nos joelhos, e de caneta na mão, escrevo-te mensagens nas paredes de azulejo, realçando o tom negro e escuro com o azulejo nem azul pálido nem cinzento gasto! Nunca as leste! Sei que nunca as lerás! Mas mesmo assim, insisto em passar-te a mensagem de que para mim, existes, ainda que para outros, possas não existir. No chão, vão vendo-se filtros de cigarros, fumados até ao limite, de tanta espera, de tanto sufoco da alma! A impotência de não fazer aquilo que quero e que desejo, faz com que o primeiro refúgio que se encontra, persista por fim. Talvez o seja mesmo. Talvez o refúgio dos cigarritos, seja a minha vontade, morrer mais cedo, para não ter de viver sem ti. Encostados a um canto, daquele canto ainda maior, concentram-se as fileiras de maços de tabaco, já vazios e calcinados pela gente, que diariamente passa por aquele túnel. Alguns, talvez, com os mesmos problemas que eu, ou ainda piores, e que pelo refugio que encontraram como eu, lançam discretamente os maços vazios ao chão, que com o vento, se arrastam até aos cantos. Muitos dos que ali passam, reconheço-os…daqui, dali, de mais algum lugar, mas quando por mim passam, vejo-os todos de igual para igual. Para mim, são simples pessoas, que implementando as suas próprias rotinas, apanham o caminho mais curto para suas casas. Se me perguntassem cinco segundos depois, quem por ali passara, não me lembraria! São todos uniformes, rotineiros, simples, gente comum, humana. Gente que para mim, nenhuma importância tem. Só tu! És tu, que me fazes passar horas a fio, a pensar na vida, na morte, na vida para além da morte. É por ti, que não faço o que quero, por saber, que talvez não seja o melhor. Ainda que desconheças este lugar, tem a tua essência, assim como uma forte ironia da alma, porque afinal de contas, está tão perto, quanto eu. Ele próprio se chama pelo teu nome, que eu deliberadamente, carreguei nas paredes…cinco letras…que têm persistido com o tempo! Nem o bater do vento, nem o desgaste da chuva, nem mesmo o incestuoso sol, se atrevem a profaná-lo…Sabem que tenho vingança escrito nas entranhas e que por uma letra que se consuma, terão mil letras que se assomam. Enfim…este meu refugio, acaba por ser a minha segunda casa! Sozinha, com um ombro amigo, ou simplesmente com alguém, é por ti, que passo nele grande parte do tempo que me resta.

Perdida

Perdeste-te um dia, num mundo enorme á vista, embora na sua constelação seja uma agulha num palheiro. Um mundo de incertezas, de corrupção, de morte, de dor, de tudo, menos do que devia ser. Todos são suspeitos! Suspeitos de te terem tirado tudo o que tinhas, suspeitos por te terem extraviado, como se de um produto fora da validade te tratasses. Desapareces-te assim…ninguém notou pela tua falta. Hoje, sentem um vazio naquele recinto, onde a tua imagem se marca para sempre, nos muros e vitrinas dos cafés, onde as pessoas se sentam, á espera pacientemente de te verem passar. Há ainda a esperança de saberem de ti, mas o mais incrível, é que ninguém sabe como fazê-lo. Foste raptada? Trataste-te de um acidente dissimulado? Nem tu própria sabes responder. És ainda jovem, muito jovem, és ainda um rebento tenro, que mal se desenvolveu. Não tens consciência de que o mundo, não é o paraíso que te fazem crer que é. Onde estás? Há tanta gente que te procura, e não sabem como te encontrar. Panfletos circulam, a tua face caucasiana, de ar fresco e cor de mel, faz lembrar as paisagens campestres, de onde vens. Os olhos azuis, azuis como uma lagoa tónica, representa em ti uma certa inocência, o que acabou por te condenar. Esses loiros cabelos, de tradição britânica, marcavam definitivamente as terras das quais descendias. Todos te vêem, mas nenhuma das tuas semelhantes, és tu. Partilham o mesmo tom de pele, o mesmo cabelo, mas esses olhos que matam, só a ti te foram oferecidos. Que te aconteceu? Onde estavam aqueles que supostamente, são teus pais? Abandonaram-te, num quarto de hotel, entregaram-te a um destino que podia alterar-se. Ou será que foram eles? Ela nunca chora e ele…nota-se que é distante e suspeito! A mãe que perde um filho…perde toda a coragem. Perde parte de si, algo que sabe que é genuíno, perde a própria alma e culpabiliza-se, pela perda que não pôde ser evitada. Segue em frente, mas o vazio é tão grande, que acaba por se desintegrar do meio que a rodeia…acabando por enlouquecer, ainda que mantenha o juízo intacto. Ela enfrenta o mundo, enfrenta a comunicação social, enquanto o mundo a chama de culpada. Mas eles têm razão. Ela não. Ela sabe que a julgam, mas mesmo assim, quer ser julgada. Porquê? Haverá algo que julgar? Tu, que te perdes-te ou que foste levada para longe, tornaste-te para o mundo, uma incógnita, uma pergunta sem resposta, um livro sem páginas, um corpo sem ninguém. Um ano passou, um ano, dominado pela incerteza de muitos e pela esperança de outros tantos, que como muitos casos idênticos, se resume a uma eternidade da espera.

Saudade


É amarga a dor que me invade!
Dor que nem nome tem nem se identifica.
Apareceu sorrateira, fazendo-se de amiga, sem qualquer aviso ou anúncio.

Tenta controlar-me mas eu sinto-me forte.
Batalho contra ela todos os dias da minha vida, desde que invadiu a minha consciência.

Apenas sei, que esta dor, apesar de faminta e terrivelmente mortal, quero senti-la, quero tê-la, quero que faça parte de mim.
Num dia, como este, perguntei ao que me ouve, que dor era esta que me invadia e me alterava.

Disse que por muito que lutasse, era a saudade.
Saudade, que é transportada pelo vento, nas suas moléculas quentes e frias, d lugares distantes, até nós, de nós até um alguém, que também a sente.

Se a mulher não fosse mulher

Que magnifico arquitecto este! Que esbelta escultura se permite pelas suas mãos, louvar. Tudo é simbólico, tudo se resume a beleza, beleza rara para alguns, tudo está em harmonia, embora algumas vezes desproporcional. Embora haja ausência de proporção, a mulher constitui uma das mais belas esculturas do mundo, já o diziam os antigos, a beleza mata. Pois, e se não mata! A mulher pertence ao mundo, é a mãe, o nascer puro e genuíno. É aquela que dá continuidade a raça, aquela que prospera e prosperará por toda a eternidade. Essa face delicada e carinhosa á vista, com seus olhos de água límpida, de verde fresco ou castanho celeste, derretem os machos, ordenando-lhes, que prontamente se resumam a vassalos, a mendigos. A chama do olhar da mãe-terra, invade-os, dominando-os como bestas, á servidão mais cruel. Os lábios finos ou carnudos, com tom natural, entre o vermelho carnal e o rosa inocente, produzem neles um estigma de prazer, que tanto anseiam por experimentar. Os finos ou baços cabelos, com caracol ou simplesmente lisos e naturais, acaricia-os com seu leve tocar. Existem deusas e sem dúvida, a mulher é uma delas. O busto feminino e simples, está no Egipto antigo, como a mais bela mulher do mundo, está na mitologia grega e romana, como deusa e portadora das mais belas qualidades, está na Idade Média, como pertença dos homens e dona da vida, está no Renascimento, como pintura dos mais conceituados artistas, está na Idade contemporânea, como personagem de poesia, está hoje em dia, como pose de jornais e revistas, em toda a parte. Ao longo destes períodos, apesar de submetida e sem direito algum, havia a consciência plena, de que sem a mulher o homem não existe. Sem a mulher, o mundo não é mundo...O medo de perder o amor feminino, fazia os homens casarem-se, tornarem-se homens mais cedo, para que se assegurasse uma linha herdeira, que sem a doce e amada mulher, não existiria. Que dom deu Deus á mulher! O dom da vida, o dom do nascimento e da regeneração das sociedades…Graças ao útero feminino, as sociedades evoluíram, dando a estas, homens de ideais fortes, homens revolucionários, que acabaram por influenciar as sociedades actuais. Seria isto possível se a mulher não fosse mulher?

Um olhar matemático

Por muito que se diga dela, e por muito que com ela não simpatize, a Santa Matemática, é uma ciência que activa o poder.
O matemático torna-se génio, a fórmula torna-se lei e tudo acaba por rodar, á volta dos esquemas matemáticos, que regem o Universo. A vida é uma linha perpendicular, á qual se adicionam momentos, positivos ou negativos, que resultam numa incógnita, o destino. Alguns resolvem o problema, outros não. Estes últimos, regem-se por um paralelismo infinito, que faz da vida uma pirâmide sem base.
Nessa base, surgem grandezas absolutas e denominadores comuns, que nos controlam e nos dificultam a resolução do problema. Extraviam os nossos planos, os nossos diagramas e traçam rectas e curvas, na direcção errada.
Já os outros, que resolvendo o problema descobrem o Máximo Divisor Comum, vivem uma vida integral, exponencial, aproveitando cada momento impar, e dando prioridade á potenciação da felicidade. Surgem ai, os tão aclamados ciclos viciosos, os triângulos amorosos, que reduzem duas almas, a um só quociente.
No fim, inumeravelmente aclamado, restam as hipotenusas, a soma dos momentos mais importantes da vida, a que tão matematicamente chamo, formulas inacabadas.

Viagem até a ti


Percorri o Universo até te encontrar.
Descolei no foguetão da duvida,
Sobrevoei os céus da fraqueza
E entrei na Galáxia do amor!


No caminho,
Parei no Planeta Vermelho,
Que me abasteceu de ciúme e saudade.
E voltei á viagem infinita que é chegar a ti.


Estrondoso e cheio de incertezas este teu Universo!
Não imaginas, quantos meteoros e buracos negros tive de ultrapassar.
Mas finalmente encontrei-te!


Anda, sei que desejas ver-me, sentir-me, amar-me.
Partilha o teu mundo e eu partilharei o meu, este Planeta Azul que é nosso!
Embarca na nave da paciência, da compreensão, da paixão e do amor.
Sente-me, como a Galáxia que conseguiste alcançar.

Vultos nocturnos

Sustiveram-me aquelas paredes de Pedra dura e fria, enquanto os meus braços, pareciam desprender-se do resto do corpo. Tanta gente, á minha volta, um vulto desconhecido, que me sustinha a cabeça, sem me deixar adormecer. Por minutos, senti frio, senti a aragem alta e gelada, a percorrer-me o corpo, efervescente, quente, ardente.
Lembro-me de luzes, muita luz, mas estava escuro.
Uma chama estridente de luz, ofuscava-me a vista, cegando-me. Encostei-me, amparei-me e não me deixavam dormir! Tinha tanto sono, e não me deixavam fechar os olhos. De que me serviu tudo isto? No fim, acho que deixei de pensar em quem não devo, porque sei que também ela, não pensa em mim.

Crónica de uma lágrima no Douro


Consumiu-me por dentro aquela sensação de fracasso, quando parti. Sabia que alguém faltava, onde, porém, não era suposto estar, ainda que viesse comigo no coração. Quando partimos, senti-me a boiar, num oceano que nem me deixa afogar, nem remar até á margem. O oceano, prendia-me como o destino, entre a espada e a parede. Embora, a espada se cravasse cada vez mais, até se esgotar por fim. Ao respirar, o ar percorria-me os pulmões, como se respirasse soluçante, sem rumo e sem fôlego. Percorria-os e rompia até ás veias, onde se envolvia no sangue quente e me intoxicava de pesar. Desta reacção química, resultaram lágrimas, que nunca cheguei a chorar, porque não era certo ou porque chorar é para os fracos. Mas eu choro por palavras e não por lágrimas. Então sou fraca? Não sou forte. Se o fosse, já tinha ultrapassado a parede á muito tempo, e a espada não estaria cravada em mim, forçando-me a deixar-me levar e a sofrer cada vez mais, com cada espetadela, duma espada que, para mim, a mim está destinada. A brisa do Douro, tocou-me de leve, fazendo esvoaçar os meus caracóis e dizendo-me que algo se esconde para mim, como se transportasse em matéria, os pensamentos e recordações, de um alguém longínquo. Senti-me uma Fúria, uma metade mulher/metade cão infernal mitológico, que domina o vento. Senti que todos estavam ausentes, pareciam moribundos, com coisas que para mim, naquele momento, eram inexactas e supérfluas. A paisagem do Douro, corrompendo as gentes de profundos esgotamentos e stress, esgotava-se num ponto central, o horizonte. O rio, corria esgotado e levemente pelas margens, de séculos e séculos de trabalho, sem nunca se pensar em serem pagas. O verde dominante, de jardins em flor, abraçava os enamorados, envolvendo-os ao ínfimo detalhe, numa bênção inesperada. As aves, pombas sobretudo, voavam em circulo, tentando acertar no rumo a seguir. Desciam, poisavam e voltavam para o bando circular, onde um macho superior, as esperava. Conforme caminhava, pensava na sorte que tenho em poder usufruir daquilo que ali se mostrava, sem o mínimo interesse se não se está com a pessoa certa. Com aquela pessoa, que apesar de cinzenta a paisagem, a tornava viva e colorida, como nem Roquemont a pintara. Naqueles traços, de quadros centenas de anos mais antigos de que os meus próprios progenitores, via esse alguém que não fazia ideia, do que fazia ou do que pensava no momento. Via na baronesa o seu rosto, no conde, a sua irónica expressão, nas crianças, o seu sentido de humor, em Roquemont, o seu sucesso, na escultura, a sua forma, ainda que esculpidos estivessem, Narciso ou o próprio Deus Sol, Apolo. Naquelas salas, todas cheias de historia, onde se contavam lendas e amores perdidos, daqueles que se retratavam, para sorrirem ou para serem eternos, angustiava me saber, que também eu tenho historia e que um dia alguém a contará, por mais simples e triste que seja.

Crónica de quem ama e não devia amar (Parte 1)


Se me perguntassem qual o maior mistério do mundo, eu provavelmente diria, que era o amor. O amor, é a sinfonia mais complexa, que Bethoven nunca escreveu, é a formula mais complicada, que Enstein, não conseguiu resolver, é a maravilha que ainda não se descobriu, é o tesouro mais difícil de encontrar.
Porém, há em cada pessoa, em cada humano, um pedaço de amor, um recanto submerso de tremenda paixão, um misterioso pedaço de loucura insaciável, um percurso perigoso e arriscado de ilusão, tudo isto, apenas para definir e complementar o amor. Na minha opinião, não há amor sem paixão, nem paixão sem loucura nem loucura sem ilusão. Tudo isto, faz com que o amor, seja uma espécie de missão impossível, resultante das acções humanas e dos pensamentos e frequentes desejos, que acabam por se tornar constrangedores e insólitos, numa espécie, em constante mudança e em constante descoberta.
Ninguém pode dizer que ama, porque também ninguém sabe se odeia. Mas há, sem dúvida, uma correspondência entre amor/ódio. Quem ama, odeia e vice-versa. Há sempre algo que transporta o ódio ao nível do amor. Por vezes, torna-se maior de que a própria força que move o mundo, desviando destinos e domando as mentes dos retorcidos. Estes dois sentimentos, igualam-se e entrelaçam-se mutuamente. Quem é especial, acaba por se tornar num objectivo rebuscado e por concretizar. Nunca sabemos se o alvoroço que nos causa, é bom ou mau. É algo, que permanece incansavelmente dentro de nós e que nos leva a fazer loucuras. Nunca podemos saber o que realmente sentimos!
Embora o amor nos consuma, pode fazer com que façamos parte de alguém, e com que alguém faça também parte de nós. Quando estamos com ou avistamos esse alguém, sentimos a extrema segurança e o positivismo humano, de que tudo está controlado e como deveria estar. Sentimos um consolo antiquado, de apaziguar a alma e nos parar o coração. O amor torna-nos criativos e melancólicos. O amor causa desgraça e dor. O amor torna-nos a pessoa mais feliz do mundo. Será que sim, ou que nos torna ainda mais miseráveis? O amor rebaixa-nos, faz-nos ser quem não somos, e se isso não é ser miserável, então que será? Quantas pessoas deram a vida, por amor? Quantos morreram em vão por amor? Quantos se mataram por amarem? Quantos ainda esperam amar um dia? Quantos abandonaram quem pensavam amar, por outro alguém que também amam? Se isso não é cruel e miserável, então eu vivo noutro mundo, que não este.
O amor é algo, que se desenrola do nada e nos controla numa questão de acaso. Basta um simples olhar, tímido e selvagem, de um verde melancólico e orgulhoso e de uma loucura e paixão desmedidas, para dizer-mos que amamos. Será o amor tão simples? Não, não é. Quando se ama quem não se deve amar, em vez de felicidade, luta-se uma batalha de interesses, de loucura e crime, de poder e tortura, de perda e restrição. Quantos deixaram de amar por que a sociedade assim lhes exigia? Quantos amores impossíveis retornaram do além para dizer umas ultimas palavras? Tudo por amores que não foram permitidos! E agora pergunto, devem deixar que se amem, aqueles que não o devem fazer? Claro, que sim. Porque um Deus, num suposto livro sagrado qualquer, que por uma razão desconhecida criou a humanidade, amou-nos em vez de a ele próprio. Deu-nos a oportunidade de preservar algo. O amor! Mas continuo a perguntar-me constantemente: o amor existe? Se não existisse, que outra faculdade sentimentalista dominaria o homem ao ponto de dar a própria vida? Há quem dê a vida por amor a Deus, mas há quem a dê por amor a alguém, que não ele. A vida é uma linha e os seus extremos são o amor e Deus. Deus é deveras, um assunto muito diferente. Ninguém diz que existiu, pois não há provas. Mas ninguém afirma que não existe, pois provas não as há. Por Deus, muitos não amaram, pois pensariam estar a cometer um pecado punido com a morte. Que Diabo! Pecado? É pecado amar porque assim o fez Deus? Talvez…mas em todo o caso, Deus deu a vida por nós, logo, amar é superior á própria morte. Quem tem direito de proibir, aqueles que se querem e se amam? Quem pode ditar as leis do universo e impedir o amor? Amar é algo, superior a raças, a idades, a sexos, a distinções económicas, a tudo…quem ache o contrário que experimente e então verá, que tenho razão. Que seja consciente do que faz, e ame quem não deve, quem não lhe é correspondido. Inicialmente é uma dor insuportável, mas se conseguires que esse alguém te ame, cresce em ti um outro sentimento, um ligeiro sonho que te invade cada vez, que essa pessoa te olha. Sentes ter conquistado o mundo, ter subido ao céu, ter dominado o fogo, que te tem torturado tanto tempo. Com o decorrer do tempo, vais aprendendo a controlar aquilo que te põe á prova, o amor portanto. Em vez de demonstrares todo esse amor, sentes uma angústia angustiante cada vez que esse alguém se aproxima de ti. Tendes a desviar o olhar, mas reparando em cada gesto que faz e em cada expressão que usa. Se retribuir o olhar, sorris, ou então, ignoras. É tão difícil tornares-te invisível, quando sabes que está tão perto! Ali, a dois, três passos…a olhar constantemente para ti, definida por uma sigla, que todos desconhecem e uma expressão irónica, que todos veneram. É única aquela personalidade estranha e ao mesmo tempo, cada vez mais familiar! Consigo até, antever os gestos que fará de seguida, ou o que dirá. Apesar de previsível, há em cada dia, algo de novo a descobrir. Há sempre aquele pormenor que nos escapa, aquele gesto que falhámos ou que pareceu menos importante. Mas…com o tempo…o teatro acaba… e quando não temos essa pessoa por perto, refugiamo-nos em coisas mais mórbidas, os vícios e a raiva. Os diversos vícios acabam por acalmar o ritmo cardíaco, deixando-nos menos ansiosos e mais perdidos ainda. Porém, a raiva é aquilo que eu sinto constantemente. Quero que toda a gente á sua volta, desapareça, a bem ou a mal. Perder a paciência é um limite humano, e quando os limites se ultrapassam, alguém tem de pagar o preço.
Mas…apesar de tudo de mau que convém o amor, amar fez-me perceber que o destino existe e que não se controla, embora eu tenda a controlá-lo. Amo alguém, que está fora do meu alcance, pena para mim! No fundo, sei que com o tempo o saberá, senão o souber já…?!