segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Carta momentânea

Querida Tia:
Queria dizer-te que nunca falei muito de mim, e que portanto, agora o faço. Foste como uma mãe, que tive, mas que não era suficiente. Encorajaste-me, quando as forças me faltaram, deste-me tudo aquilo que estava nas tuas possibilidades dar, foste mais do que um suporte, uma guia. A minha vida transformou-se num caos…perdi aquela pessoa que amava, que nunca cheguei a conseguir…perdi aquela amiga que tanto me apoiou…renunciei a tudo por nada…tomei as decisões erradas e rejeitei as mais acertadas…tive um acidente, estou á beira de um precipício, e queria avisar-te que me junto a ti. Para a minha chegada, não quero lágrimas de ninguém, não quero luto, não quero escuridão nem incertezas. Queria que o mundo mudasse, queria criar uma realidade utópica, mas verdadeira, baseada naqueles ideais que tanto me implementaram, e que acabei por seguir, embora me estivesse no sangue, a revolta e a contestação. Queria que a vida que levei fosse respeitada pelos que ficam, queria que pensassem que, por muito insignificante que tenha sido esta vida, há a possibilidade de haver outra, onde, todos os erros e decisões tomadas sem pensar, possam ser remediados. Queria que sentissem a minha falta, porque também eu vou sentir a deles. Queria que soubessem, que enquanto vivi, porque sei que desta não me salvo, que fui feliz, embora o facto de que, não fiz coisas que gostava de ter feito. Perdi á partida, aquela pessoa que me iluminava mesmo num dia escuro, porque na realidade, nunca soube o que realmente sentia. Nunca lhe disse, e estou arrependida, mas só agora percebo a expressão “A vida são dois dias”, e os meus dois dias, terminaram. Era tão diferente de mim e ao mesmo tempo, tão inacessível! Guiei-me pelo que achava certo, pelo que os outros achavam certo e acabei encharcada de remorsos e de arrependimento. Sabes Tia? Amar é o melhor que há na vida. Embora não lhe tivesse dito o que realmente sentia, por si só, fazia-me feliz. Sei que se lhe aperta o coração, neste preciso momento, porque também ela, e agora sei, sentia o mesmo que eu. O destino é tão cruel e o mesmo tempo tão amável! Queria também, que todos aqueles que me conheceram, se lembrem de mim no meu melhor, se lembrem de quem eu era e não de quem poderia ter sido. Porque apesar das contrapartidas, acabei por ser alguém, que encaixava no meu corpo próprio, como uma moldura na parede. Não chores Tia! Acho que te vejo, mas não tenho a certeza se és tu. Sigo em frente? Espera…afinal não morri! Estão a tentar acordar-me! Tia, vou poder remediar os meus erros…vou poder dizer que amo…vou ser quem deveria ter sido…vou adiar este momento, porque sei que apesar das saudades, ainda me faltam coisas a fazer! Adeus Tia!
Até breve.

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