segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Coagida


Era uma vez uma menina que virou mulher.
As primeiras coisas que se perderam foram a inocência, a infantil verdade e os cereais de manhã.
Fui deixando os hábitos, fui perdendo as virtudes, foram crescendo os defeitos e moldou-se a personalidade.
Nada resta dessa menina.
Mudo todos os dias, transformo-me a todo o instante, envergonho-me por me ter tornado na pessoa que sou hoje.
Perdi o jeito para o desenho.
Perdi o jeito para ser eu.
O eu que era e que queria reaver, tão dócil e puro.
Fui corrompida pelos vícios, pelas atitudes dos outros, pela moral emprestada.
Pedem-me coisas que não posso dar.
Pedes-me para me ter de volta mas quem tu pedes não sou eu.
O que eu era deu-te tudo, deu-te a pureza que precisavas, ofereceu-te uma possibilidade.
O que eu sou desiste facilmente.
Falhei-te.
Perdi também o ser ambiciosa, o ser perseverante, o lutar até mais não poder.
Sinto-me doente e coagida pelas lembranças a manter-me de pé.
No fundo, são elas que me agarram quando estou a cair, são elas que me mostram que poderá ainda ser possível.
São elas que me lembram que te amei e que continuo a fazê-lo embora agora não tenha forças para agir, não tenha vontade de falar, não possa compensar-te e trazer de volta a pessoa que tu realmente queres.
Não posso mais ser tua cúmplice se me debato comigo mesma.
Começa a procurar-me.
Será mais fácil.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Estica que a corda é curta


Sinto-me a atingir um limite à muito esperado.
Estou cansada de ser usada, de ser manipulada, de me atirarem tudo e mais alguma coisa á cara sem razão.
Quando eu dou tudo e mais alguma coisa.
Tudo que tenho, que possuo, que é meu e inteiramente só meu.
Farta, fartíssima de pessoas ingratas que têm manias e preconceitos e que teimam em não me perceber.
Em virar o jogo para o lado que convém.
Em virar-me a mim contra mim própria e deixar-me cheia de pesar, peso na consciência e remorsos daquilo que é hoje a minha vida.
Não me faço de vítima mas cansa ser pisada durante tanto tempo, ser abusada e ser tudo calculista à minha volta.
Procuro descanso, paz de espírito, resolver o que tenho que resolver.
Preciso de motivação para levar isto para a frente até para continuar a viver.
Sinto-me complexada com o mundo à minha volta, sinto-me fora de série e ao mesmo tempo uma inteira merda.
Cansa-me saber que todos estão à espera que eu seja forte e que não tenha as chamadas recaídas que todos os outros terráqueos têm.
Até mesmo os animais.
Satura-me o facto de estarem todos à espera do mesmo, que eu resolva, que eu salve, que eu isto ou que eu aquilo.
Preciso de abrir os olhos e deixar de ser conas, enfrentar o que há para enfrentar e deixar de ser mimada e manipulada por quem quiser fazê-lo.
É tão fácil levar-me mas a bem nunca ninguém foi capaz de o fazer.
É triste saber que tenho tanta gente e quando dou por mim estou sozinha a levar com problemas de consciência uns atrás dos outros, a apanhar com os problemas dos outros, a disponibilizar-me para ajudar e ouvir, para fazer e refazer e o que recebo em troca?
Merda para mim!
Estou destinada ao fracasso.
Estou destinada a sofrer.


Mas tudo que vem também vai.
Tudo que faço, desfaço.
Tudo que sou, muda como mudam as pessoas.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eterno Amor

Querido papá e mamã, 
Quero que saibam que a minha distância pode ser encurtada com algumas horas de viagem. 
Nada definitivo. 
 Não sumi nem vou sumir nunca. 
Vou sempre ser a menininha que levavam a passear mesmo que a minha noção de passeio tenha mudado com o tempo. Vou ser sempre a criança irritadiça que vos enche a cabeça de anedotas e vos transtorna a alma de tanto rir, que vos faz querer o mundo, que vos faz ter esperança nele. 
Sei que não querem nem desejam de forma alguma que tenha a vida que vocês tiveram. 
Casar, ter filhos, dedicar-me a uma família e abdicar da minha vida, da minha independência, dos meus objectivos. Sei também que puseram tudo em mim, que depositaram toda a vossa confiança, todo o vosso amor e carinho, toda a vossa fé se é que existe, todo o vosso pensar foi dirigido para mim e para o irmão lindo que tenho. 
Não. 
Não vou ter essa vossa vida dedicada aos filhos embora anseie por tê-los no regaço, como me tinhas tu mãe. Não vou pedir-lhes que me ensinem a dar cambalhotas pai. Sempre fingiste que não sabias só para me filmares com aquela câmara velhinha e pesada que pendia sempre do teu ombro...só para me ver chegar, rebolar, jogar á bola. Só para me ver a martirizar o Snoopy. Também não me esqueço nunca dele embora outros com a mesma densidade de ternura tenham entrado na minha vida. 
E sei que também não vou ter esse amor que nutre em vocês, sempre altivo e galante, desde sempre até hoje. Sempre me lembro de vos ver a pegar um com o outro, de vos ver rir e brincar. Recordo-me vagamente dos vossos sorrisos cúmplices um para o outro quando me levavam á praia. 
Ainda os vejo hoje. 
 Esses sorrisos, esses olhares. Tão verdadeiros, tão derradeiramente estupendos, tão avassaladores. Desejava ter isso, ter alguém para partilhar a minha vida como vocês fizeram. Quero ser assim, daqui a uns longos anos. Olhar para uma pessoa e sentir-me apaixonadíssima como da primeira vez. 
Vejo-vos a envelhecer, a adoecer e sei que vão ser sempre os dois, sempre vocês, com esse vosso ar especial de lidar um com o outro, sempre a renunciar beijos mas sempre á espera que se peçam. Não importa pai se és frio ou queres parecê-lo, se tu mãe reclamas porque ele é gastador. Importa que se souberam entender e que sempre foram moderadores um do outro. são sublimes para mim. 
Não sei... Sei que posso ter tudo aquilo que tiveram mas não isso. Não esse amor eterno que nunca morre, essa paixão faminta que ainda existe, esse segredo que mantêm os dois. 
O segredo de como serem só um no meio de tanta gente.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Thanksgiving

It's easy to find you in a middle of a message. Most difficult is to find you giving yourself to me. The reason is vanishing. Love is trembling. Passion is gone. There's no future, there's nothing to compare it. At least, that's what you've been thinking till now. Maybe even today, you opinion stills the same. You'll never change. Your illusions will always be future hopes. And I will be your support till you realize you've had enough. Till you've notice that love is not here but far away from you, from us. To get away...To run...To leave everything behind... That's what you always wanted. Someday, you will get away with all your lies, fake reactions, feeling that never were. That never existed. Knowing shakespeare, knowing Poe... It never mattered. Not even when I tried to teach you why they have wroten the way they wrote. Why Frida painted that way...Used those colours...Referred to that subject. My intelligence was not enough to fight against an illusion... Maybe a potencial love. By the way, buying your lies for a while it's like being spanked. We don't like it but seams a good option sometimes. Listen to them over and over and over again it's like bad sex. We can fuck but we always get tired.

sábado, 15 de setembro de 2012

Consumo Amargo

Mais forte que eu são as ilusões, as memórias, tudo aquilo que foge de mim e que não posso controlar.
Mais forte e desafiante é um amor renegado,
Uma chama vadia sem fogo nem nada.
Um queixume constante de algo que deveria por-se num lugar,
E que nunca encontra o lugar devido.
Noites, dias, eternidades de horas a ser branda.
A lidar com a minha vontade histérica de por os pontos nos lugares e de nunca o fazer com medo de te perder.
Debato-me e corrói-me o corpo esta vontade interminável de por cobro á vida.
De por cobro a um próprio sentimento.
Termina, extingue-te, consome-te amor reles.
Nega-te a mim pois não fui feita para ser amada nem nasci para o fazer.
O desejo de possessão,
A vontade ciumenta,
A precisão auditiva que aguçei para que sempre te pudesse ouvir a respirar,
Uma interminável paciência para tolerar ilusões,
Uma curiosidade insaciável de te olhar de relance,
Um esperado fim bem mais cruel para ambas.

sábado, 11 de agosto de 2012

Terra Prometida

Há momentos na vida em que realmente pensamos se vale a pena continuar. Há destinos que se cruzam sem terem presente um futuro. Para quê cruzarem-se se os desvios são tantos e muito maiores? A questão poderia permanecer sem resposta e sem pertendentes a darem-na. Todos nos cruzamos... Por ideias, causas, interesses, concertos, a mesa no café... Até pelo amor. A única diferença entre estes meus exemplos é que as ideias transformam-se em novas ideias. As causas acabam quando atingem o objectivo pretendido. Os interesses mudam conforme mudamos. Os concertos existem várias vezes numa vida. A mesa do café existe sempre quando não temos apoio e precisamos de ser acompanhados por pessoas, seja a empregada seja o inquilino da mesa ao lado. O amor... O amor quando aparece dura para sempre. Mas é possivelmente o mais frágil, o mais facilmente destruído. E quando dois destinos se cruzam nasce ali uma possibilidade. Uma esperança que nos guia e nos diz que não nascemos para viver. Mas sim para amar. O amor move-nos e consegues trair-nos. Tornar-nos bobos de nós mesmos. Virar-se contra nós. O amor nasce e alimenta-se. Vai-se alimentando até que eu morra, até que tu morras. Sei que amor que é amor morre quando nós morremos. Só e apenas. Amor que se distingue dos outros é natural, cúmplice. É mais dar que receber ou até mesmo possuir. Amor não é possessivo. Amor é entregá-lo a outrém se percebemos que a felicidade de alguém depende disso. Amor não é ciúme mas sim confiança. Amor não existe. É a Terra Prometida.