quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Promiscuidade Vampírica


Algo me embarrou no braço e pediu-me que olhasse para trás. Acedi ao seu pedido e quando olhei, vi aquela estranha personalidade, que parecia consumir-me no meio da noite, envolvendo-me no manto de névoa que o cobria, trocando o esbranquiçado tom da sua pele, pela iluminação nocturna de um candeeiro urbano, conduzindo-me leve mas violentamente, até a entrada do que parecia ser uma igreja abandonada.
Lembro-me da leveza com que me tocava, do frio que me causava ardor na espinha, da pele crua e branca como cal, das mãos fortes e poderosas, daquele hálito quente, efervescente. Deitou-me sob um altar, não conseguia mexer-me…dominava-me!
De manha acordei, olhei em volta e estava sozinha. Tinha a sensação de que nunca estivera tão sozinha até então. Doía-me a cabeça e sentia uma leve e sedutora pressão sobre o meu pescoço, que sangrava. A partir daqui, comecei a sonhar com aquela máscara, que me aparecia a meio de sonhos, transportando-me até ele e por sua vez fazendo o inverso, transportando-o até mim. Era assim, que tempos e tempos depois me aparecia, sempre tentando seduzir-me e eu, desenvolvera até então, habilidades e fraquezas que até então, não descobrira.
Perdi o emprego, dificultava as relações com as pessoas, evitava a luz, não comia nem bebia de resto, tudo parecia igual. Saía á noite. Por todo o corpo, notavam-se-me as veias e o sangue que as percorria sem descanso. Apetecia-me tanto sugá-las… Queria sentir a minha própria pressão a percorrer-me! Houve um dia em que tudo se desmoronou…. Aquele tipo, que tinha conhecido a mesa dum bar, convidou-me a sair. Aquela casaca de couro, rodeava-lhe o pescoço de tal maneira, que parecia desejar libertar-se. Podia beija-lo que de nada me sabia. Queria trincá-lo, morde-lo…O desejo aumentou, estava inquieta…provoquei-o e sem ninguém notar, comecei a morde-lo….Os meus olhos esbugalhados e negros, sentiam a pressão com que sugava o pobre desconhecido, a força com que o deixava exangue. Nem uma gota lhe deixei. Nunca me tinha sentido assim, tão fortemente pressionada, era como se a fome que tinha se tivesse matado e a sede por sua vez, saciado. Sentia-me satisfeita e os meus dentes estavam afiados como se fossem marfim. Cheguei a casa exausta, caí no chão e desmaiei. Tinha a camisa manchada, da boca ainda me escorria sangue fresco…
Foi então que aquela assombração me encontrou de novo, dirigiu-se a mim, pegou no meu corpo exausto de se alimentar e deitou-o sobre a cama. Lembro-me de poder olhá-lo, de me olhar, de ser igual a ele…numa voz de sotaque requintado disse-me ao ouvido:
- Abri-te o caminho da eternidade! Agora, serás eternamente jovem, doença nenhuma te afectará, nenhum medo terás, nada para ti será impossível…

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