sábado, 6 de dezembro de 2008

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Lembro-me de adormecer por fim, caíra num sonho profundo. Como estes, já muitos conto, sonhos de mentiras, sonhos de injúrias e de realidades irreais, sonhos sem nascentes, sem vida, sonhos nos quais o sol não brilha, sonhos que me assustam e me mostram as trevas do mundo.
Um sonho que tive, desta vez em que adormeci, com esperança e talvez com futuro, arrebatou-me a satisfação de estar vivae fez-me prever que possivelmente não o estarei por muito mais tempo. Esta doença que me consome, invade-me durante o sono. É ela que me aparece! Aquela imagem real e puramente irónica, é sempre ela que me arrebata…maldita sejas e as ironias que dominas! Sonhei que me aparecia, enquanto eu caía ao abismo…segurava-me, puxava-me para ela, mas a minha paixão e o meu respeito desvanecera-se com o tempo. De tanto lutar, apercebera-me que não valia a pena. Ela dera-se conta de tudo, de que a queria, de que me queria, porque todos aqueles olhares e a maneira como nos ignoravamos mutuamente, tinha um sentido, uma razão. Enquanto me puxava, sentia o peso do mundo, da sociedade a cair-me em cima, da razão que diziam não termos. Desta vez, era ela que lutava e eu que resistia. O abismo chamava-me e os demónios, puxavam-me com força de gigantes, daqueles que estremecem o mundo de uma pisada. Eu queria cair! Estava farta de lutar, sentia-me cansada da espera, estafada da vida e do que tentávamos esconder.
Caí! Os demónios partiram-me o coração em pedaços, alimentando-se da mágoa que dele saía! Ela, tinha desaparecido! Do abismo, podia ouvir-me chamar por ela! – Onde estás?
Não obtive resposta. Nem ela nem os demónios tiveram piedade por mim. Nem ela nem eles, me deram uma oportunidade. Pelo menos, enquanto ela me ignorava, eles ansiavam que me deitasse ao abismo, ansiavam pelas minhas mágoas, pela minha dor, ainda fresca e pálida! Faziam troça! Riam-se do infinito dos infernos! Acordei finalmente!
Quando me levantei, olhei para o chão…o meu corpo jazia num azulejo avermelhado plasmático. Quando virei a cara, ali estava ela! Agarrava-me pela mão e chorava lágrimas imperdoáveis. Percebia agora, porque é que ela tinha desaparecido. Não porque me tivesse deixado, mas porque eu decidira deixá-la a ela.

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