segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Perda de Identidade


Se eu pudesse, por-me-ia a mim mesma a teu lado e talvez te perguntasse se gostarias que o fizesse. Seríamos uma tela, uma fotografia nas quais te procuraria da mesma forma como se procurasse um tesouro. Afincadamente, tentaria fazer-te melhor do que aquilo que és, corrigir os teus defeitos e por-te mais bonita, se bem que os artistas já fazem isso. És a minha fotografia, o meu retrato, o meu caderno de notas, o meu lápis de carvão, o meu quadro, a minha borracha porque sem ti, nunca escreveria como escrevo, ainda que tivesse tudo o resto.
Quando pinto e desenho, são os teus traços que nos desenhos evidencio, quando ouço musica, é o teu tema que ouço e que me embala, quando escrevo és tu a protagonista, a personagem principal, quando choro és tu minhas lágrimas, quando rio és o meu sorriso, quando sofro és a causa do meu sofrimento.
Nestes meus trabalho sobre ti, deveria receber algum prémio nobel, já que consigo encontrar-te em cada um deles. São todos maravilhosos, esplêndidos e claro, todos te descrevem, todos têm partes tuas e todos são originais. A única razao porque ainda os faço e continuo a insistir em tê-los, é para que tente encontrar-me neles, o que se torna cada vez mais dificil. Eles não tratam sobre mim, mas sobre ti. Esqueci-me de como sou, já nada meu há neles. Perdi a alma e o meu interior é vazio, raso e pesado como metal enferrujado e dormente, consumido por uma doença verde-acastanhada – a ferrugem.
E agora? Como faço para voltar a ser eu? Já não sei quem sou, já não vivo por viver, já nem sequer vivo. Já não sou eu, não me lembro do meu nome, de quem sou. Sinto-me doente, mas não sei se estou mesmo doente. Pareço louca mas não ajo como tal, pelo contrário, sou bastante ponderada e penso antes de agir. O controle é a minha virtude. Seria eu assim? Será que aprendi a ser assim, controladora, ponderada, com a razão ao peito?
Deixei de apreciar a vida e tudo que nela existe. Sinto-me invisivel, não consigo encontrar pedaços meus em nada. Olho para o mar e em vez de me transparecer calma e paz, mostra-me revolta e terror. Observo uma obra de arte e parece-me absurda, idiota, estupida. Revelo algumas fotografias e por muito que tente olhar, vejo apenas um papel branco plastificado, sem rosto sem nada. Olho para a vida, necessitada e finita, e parece-me nunca ter fim. Desço um penhasco e apetece-me deitar-me ao abismo, apenas cair, sem pensar na morte ou na vida. Preciso de libertar-me de ti, isolar-me desse teu mundo que parece apenas pertencer-te. És a minha obra de arte ou pelo menos, a protagonista das minha obras, da minha arte. Podias ser muito mais,mas recusas-te a isso. Agora que me recusas-te, assim como ao meu amor, insultando-o com tamanho silêncio, com tamanho desdém, tenho como objectivo, que nem sequer sei se é objectivo ou missão impossivel, ser eu, voltar a tentar sentir-me viva e tratar-me de mesma forma considerada com que tu o fizeste, ser o frio coração que mostras-te ser e voltar a fazer obras de arte que tenham o meu nome e não mais o teu.

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