sábado, 10 de janeiro de 2009

Moléstia

Subentendo que sou um pedaço de carne para os leões esfomeados. Subentendo que vivo porque respiro. Subentendo que sou prisioneira, porque se recusam a libertar-me. Subentendo que sou humana, porque os reles humanos pensam e pensar incomoda e quando me incomodo, não me resta mais que escrever. Subentendo que no fim, lerei tudo desde o inicio e sentir-me-ei um pouco melhor ou quiça quem sabe, desejarei acabar com o mundo e com a maioria da multidão que me olha de lado e se molesta, quando eu levo uma vida de passagem, e não me incomodo com nada nem ninguém. Por isso mesmo, não acabarei com o mundo. Deixarei que se consumam na sua maldade, no seu pranto, no seu ódio, que se cobiçem uns aos outros, porque a mim, não me molestam nem me sinto de algum modo molestada. Mas se escrevo porque me incomodo, então molestam-me…Já nem sequer sei o que é ser molestada, o que é ter moléstia e sentir-me incómoda. Porque será? Humm…talvez porque vivo molestada constantemente, por nada nem ninguém, apenas nasci com moléstia, ou aliás, nunca devia ter nascido. Eu sou a moléstia, que tanta energia cobra e tanto suor exige! Mas a minha moléstia, não me cansa. Sou persuasiva, gosto de fazer pressão e ser pressionada, talvez por ser mesmo molesta. Mas há pessoas, que mesmo molestadas, não se cansam, e isso não me agrada. Porque a minha moléstia gosta de prevalecer, de ficar mais um pouco. A mim, molesta-me o nascer do sol, gosto muito mais da noite. Molesta-me a saudade, mata-me por dentro. Molesta-me amar, corroi-me as entranhas. Molesta-me estar viva, porque tenho que respirar. Molesta-me andar por aí, porque nada há a fazer. Molesta-me dormir, porque se desperdiça tempo. Molesta-me a agua, porque não sei nadar. Molestam-me os anjos, porque circulam á minha volta, na esperança que me torne num deles. Molesta-me o Diabo, porque me puxa ao abismo mesmo sem eu querer. Mas eu incomodo-me e arrebato-lhe a sua moléstia. Fico como nova! Ninguém decide por mim, eu tomo decisões e sei que caminhos seguir. Eu sou a profeta, a visionária de um mundo superior a este, por isso me molesto e escrevo, porque algum dia, darei provas que me molesto, que realmente fico incomodada com tamanha incerteza, com tamanha vergonha e descaramento, com tamanho silêncio, com tão poluido ar, com pobre doença, com eximia morte, com tanto sofrimento e duras batalhas. Porque a moléstia é o inicio de um fim muito mais doloroso.

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