sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

EsCada de CaraCol


A minha vida é como uma escada de caracol. Desço, subo e continuo confusa. A regularidade das formas arredondadas, o aumento da vertigem e o medo de subir mais alto, dificultam a chegada ao cume e impedem-me de voltar ao inicio. E fico ali, incrivelmente superada pelo medo e pela incerteza. Não sei se desça e desista mas também não me sinto motivada a subir e arriscar.
Já dei demasiado de mim. Já me superei a mim mesma e já surpreendi a mais inesperada das pessoas. Não lhe vejo os degraus e o corrimão está demasiado longe. Não consigo arragar-me. E quando tento fazê-lo, escorraça-me, queima-me e diz-me que tenho que subir sozinha, porque afinal naquele caracol imenso, eu estou sozinha. Pois é, estou sozinha. Não posso voltar para trás e apagar o passado e tenho medo de seguir em frente sem ela. Gostava de nunca ter subido esta escada, gostava de nunca ter amado alguém tão diferente e complicada. Gostava de ser ela, sendo eu. Ela podia dar-me a mão e fazer-me subir, mas será que ela mesma sobe? Ou desce? Não creio que me possa ajudar. Talvez pudesse, secretamente, se me deixasse ajudá-la. Mas as teorias sobre aquela escada são imensas. Há quem diga que ambas podemos cair. Mas há quem pense que poderiamos chegar ao cimo, as duas, ultrapassando as vertigens e o próprio medo. Poderíamos fazer daquela escada em que o corrimão mal se vê, uma escada sólida e segura. Ambas as teorias divergem em diferentes versões. Umas pormenorizam, outras são sarcásticas e arrogantes, outras ainda têm esperança e compaixão. Outras depois, questionam se qualquer um dos caminhos está certo. Porque não cruzar os braços e deixar que a escada envelheça e me deixe cair? Porque não resignar-me a subir tanto como a descer? Não sei, sinceramente, não sei.
Tu és a minha escada. Percorri-te até ali e ali fiquei. Sabes que quero subir-te mas tenho medo de faze-lo. Aliás, tu impedes-me a passagem. Negas-me! Consegues ser cruel, consegues fazer-me sentir a pessoa mais inútil no mundo, tens o dom de me matar aos poucos e algum dia morrerei, ali onde fiquei, em ti e por ti. Mas pareces não te preocupar quando os sinais das minha decadência estão cada vez mais nitidos. É pena as pessoas não verem quando precisamos delas, nem que seja para nos fazerem sorrir, quando sorrio simplesmente porque os outros também o fazem.

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