sábado, 7 de novembro de 2009

Cais De Embarque


São horas de voltar para casa.


Por muito que percorra, só lá me sinto segura. Só lá me restauro para ser roubada e corrompida novamente quando voltar para este inferno de cidade grande e bem sucedida.


Estou sempre á espera de voltar. A semana passa-se e tudo que me move é o regresso.


Está frio aqui e chove compulsivamente.


Estar longe custa mas ultrapassa-se mais ou menos com um momento de solidão e de pensamentos sobre mim e sobre o que faço aqui. Sei que tenho de estar aqui. Eles querem que eu esteja aqui. É aqui que estou. Eles estão felizes e eu também devia estar.


Só o mar me acalma. Somos iguais. Ele revolta-se e irrita-se com o simples roçar dos barcos. E eu revolto-me e irrito-me com um simples encontrão no meio da rua. Até o mar tem mais sorte que eu. Dói-me muito mais a mim do que a ele. Mas ele entende-me e absorve tudo aquilo que me preocupa. Não me causa danos nem perturbações mas eu temo-o como se fosse a própria morte. Ele quer tocar-me, tem ânsia por mim. Às vezes, dá-me a sensação de que me quer falar e após uma longe espera, reparo que estava enganada. Que louca! Agora, o mar já fala…


Viro as costas e começo a caminhar sem destino. Percorro a costa uma e outra vez, e outra, e outra mais…E vou reparando que as pegadas que deixo vão desaparecendo, como se estivesse eu mesma a desaparecer ou pelo menos aquilo que eu tenho, aquilo que eu deixo, aquilo que eu penso que sou…A margem vai encurtando e eu distancio-me já perto do porto, onde uns retornam e outros começam a viagem.


E relembro a minha própria viagem, escrevendo num álbum poemas submissos e rancorosos de alguém que partiu de mim e jamais voltou. Sinto que fui um óptimo cais de embarque. E hoje, sinto que sou um barco encalhado de uma pequenez tal, nem avistado pela luz dos faróis nem visto pelos olhos das pessoas.

2 comentários:

Little Drama Queen disse...

Muito bom. (:
Parabéns!

Little Drama Queen disse...

Então já paraste com a escrita? ;)
És tu a escrever menos e eu a escrever cada vez mais.