quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Costa


Já nada me mantém ancorada nesse teu cais. As marés vão sucedendo-se. Mas nenhum do teu Sal me salga já. Ou serei eu que talvez não me queira deixar salgar mais. E digo teu cais porque onde estou eu não há mar nem tão pouco sal do teu. Esgotou-se quando partis-te. E agora foi de vez porque há quem me diga que não voltarás tão depressa. Para sempre sei que não.
Sei que há outras vidas. Outros horizontes.
Outras paragens com mar que salgarás.
Tudo que me reconforta é que noutra vida, não sei bem em qual, foste minha. Tens todo o direito de ser de outra pessoa. E também eu tenho desejo de ser de toda a gente. Eu sou do mundo! Nunca me iria conter estando contigo. Não quero só a tua âncora, quero-a de todos os portos, de todos os navios, de todas as praias e de todos os mundos. Sou uma viajante do tempo que o percorre procurando-te sempre. Desta vez, caí num mundo em que tu és diferente. Inteligivel. Infelizmente, o meu poder neste mundo foi reduzindo-se.
Passei de ter-te a querer-te. Porque nessa vida não te queria e tinha-te. Será porque sempre queremos provar o fruto proibido. Será porque nascemos em tempos distantes. Será porque te comecei a amar por te ter perdido.
E por estranho e penoso que pareça, salgaste-me. Transformas-te o meu ser monótono e anti-social em alguém divertido e carismático. Idolatro-te por isso. Porém, o teu porto pede mais. Não abriga barcos á vela, frágeis e despojados. Prefere navios, estáveis e audaciosos.
Não digas que eu não sou audaciosa, se me propus conquistar o teu porto sem sequer me importar com a maré cheia ou vazia. Eu parti para ti sem saber que o rumo era a Sorte. E atraquei sei Sorte e sem nada. Até sem ti.
Embora tenha atracado, sentia-me á deriva. Perdida.
E sabes o que dizem dos barcos á deriva? Atracam sempre nalguma Costa.

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