sexta-feira, 10 de abril de 2009

Geografia de uma Viagem de Regresso


Enquanto fazia as malas para Lloret Del Mar, decidi pôr na bagagem um mapa para o caso de me perder ou então de me perderem. Abri-o. Folhei-o. E vi como pequeno é o nosso país, como pequena é Espanha, como grande é o Mundo e nós tão pequenos nele. E apeteceu-me construir um país só meu, onde te encontrasse ao virar as esquinas, ao passar as margens, ao subir encostas, ao descer ribanceiras, ao passar nas pontes, ao contornar vales e acidentes litorais, ao quereres fugir de mim e dar contigo sempre.
Era lá que queria amar-te. Não aqui. Era naquele país só meu que queria perder-me contigo. Era ali que queria dizer-te palavras sentidas e com sentido, sem que me sentisse embriagada ou indisposta ao fazê-lo. Imaginei por momentos a encosta litoral, as praias ancestrais às quais já te habituas-te, a areia fina e escorrediça, limpa e corada. E eu e tu a ver o pôr-do-sol. Mas depois pensei que esse romantismo todo, não é comigo. Esse sentimentalismo ridículo e transcendente, é de outros e não meu. E então, surgiu-me um outro cenário. Duas pessoas perdidas numa selva algures, de nome qualquer, de origem suspeita, onde reina não um rei mas eu e ela. Como sonhei com aquele mapa na mão! E nesse país ela esperava por mim. Não envelhecia e eu o ia fazendo inconscientemente. Gostava mesmo de inventar esse país contigo, onde não tivéssemos limites nem coações a pagar. Seria o mais pequeno em pessoas, seria o maior em carícias e amor. Eu amo-a e quero um mundo assim só para mim, desenhado, construído, planeado só para nós. Desejado por mim e talvez não por ela.
Quando parti, desejei ter-te a meu lado apoiando-te em mim enquanto eu me sujeitava a tentar pôr-te confortável. Queria tanto que estivesses presente nesta minha jornada que me atrevo mesmo a dizer que sinto a tua falta, onde nunca foi suposto estares. E esta paisagem absoluta, esta tranquilidade misturada com um pingo de loucura e excentricidade, tenho eu a certeza que te completavam no seu máximo estado de exactidão, mesmo sendo tu e atrevo-me de novo a dizer, uma personagem sem história nem nada. E se pudesses estar aqui, como seria o meu ser feliz na sua máxima potenciação, já que para mínima dela, bastam-me todos os outros dias sem ti. Vem! Anda! Tenho a certeza de que nesta praia te perderias, mesmo comigo já que nessas tuas te perdes com outro qualquer. E eu sei-o! Mas mesmo assim desejo que não passe de uma mentira, quero que me deixes sonhar, mesmo que o meu sonho seja imaginação e não realidade. Porque na realidade é que vive o teu ser e o meu existe por ser imaginário e surreal. Se não fosse o sonhar contigo, a todo o instante, a toda a hora, a todo o momento, minha essência se perderia porque sou lunática e preciso urgentemente de dormir. Dormindo nada mais me ocorre e mesmo de olhos abertos, sonho compulsivamente como seria nesse mundo, nesse lugar que eu quero criar só para nós. Se eu não sonhasse que era de ti? Quem te exaltava e te fazia crer? Ai se eu não sonhasse, que serias tu se eu não sonhasse…Ninguém, apenas alguém com sonhos que neles não crê.
E voltei, regressei ao ponto de partida como todos, na esperança que o meu sonho tivesse algo de veracidade e que essa veracidade me desse a oportunidade de ser real. Estava cansada. Finalmente, dormi. Fui sonhar. Ao acordar era a lunática de novo, com ânsia de voltar a adormecer.

Sem comentários: