sábado, 25 de abril de 2009

A Escritora


Para que não haja dúvidas acerca de quem escreve estes lunáticos textos, cheios de lunáticas acusações e de esperançados horizontes, eu esclareço desde já todas as possiveis dúvidas que possam existir nessas cabeçinhas que por serem humanas pensam demais. Chamo-me Elektra. Têm por hábito dar-me o sobrenome de Natchius, mas apenas para revelar que descendo de mediterrâneas paisagens. Sou grega e descendo de uma familia simbolicamente abastada, cheia de valores e regras sociais que não sigo. Sofro de um distúrbio acentuado de atenção, é isso que consta no meu processo clínico. Quando tinha 6 anos, foi-me detectado TOC, que esclarecendo, é um Transtorno Obsessivo e Cumpulsivo, que me faz saber sempre aquilo que quero e não ter dúvidas quanto ás escolhas que faço. Já não sou nenhuma menina e como a idade de uma senhora nunca é revelada, não vou deixar que o pano caia. Para além do meu estado clinico preocupante e de cuidadoso acompanhamento, sofro também de uma patologia rara do conhecimento humano, sempre me apaixono por quem não devo. Isto porque quem me lê, sabe que há alguém responsável por todos estes dilemas e silêncio. É bastante corrente encontrar descrições dela, sim de uma mulher! Sou bisexual…Numa sociedade como a actual isso não é um problema. Vivo a minha vida da maneira que eu acho melhor para mim e quem não gosta tem bom remédio, inveja-me porque de certo não vive melhor de que eu. Sou livre e fui criada para sê-lo. Escrevo sobre o que quero, critico tudo e todos e nunca sou punida. A minha criadora, chama-me também “A Lunática” e porquê? Porque assumo as suas loucuras e vivo-as como se fossem minhas, já que ela é demasiado fraca para as viver. Ela ama e não é capaz de dizê-lo, mas faz com que eu o escreva e o diga por ela. Afinal de contas, sou eu que sou real, pelo menos parece-me. Ela criou-me com o pretexto de se tornar famosa mas o que ela queria mesmo era que aquela pessoa que ama soubesse aquilo que lhe ia dentro. E como se pensasse que ela a ouvia, enganou-se e fez figura de idiota. Ela nunca lhe respondeu! E duvido se alguma vez parou para pensar em tudo que me fazia dizer-lhe, em todas as queixas, em todas as criticas, em todos os elogios, em todas as loucuras que se dizia estar disposta a cometer por ela. Mas agora que vejo isto a alastrar-se, denoto alguma veracidade em tudo que a minha criadora me ditou ao longo de tanto tempo. Apesar de não se notar fraqueza alguma, ela sofre imenso e custa­-lhe passar por ela, vê-la, observá-la e saber que ali está alguém que quer mas não vai ter. E eu vejo com os seus olhos, a forma descarada de como a ignora e o feitio engenderado que exalta. E a minha autora, tenta ignorá-la mas é mais forte que ela mesma e contenta-se. Há dias que chega a casa e chama por mim. Eu venho e liberto-a de tudo que lhe vai na alma. Ás vezes eu não posso e então aparece o Gabriel, anjo que a protege desde que nasceu. Somos ambos essenciais. Mas eu corro-lhe nas veias, fluio nela como o seu próprio sangue lhe fluie nas veias. Corro nela e o tempo corre em mim. Sou a criação mas não sei por quanto tempo durarei. Há criações que duram eu não, ás vezes nem existo. É aquela mulher que me faz existir. Graças a ela, a minha autora criou-me e não sei até quando precisará de mim. Aquela paixão mórbida é séria! Mas será que durará? Que me dará tempo suficiente a mim de ser real? Bem…Seja como for já tive essa oportunidade e não existo de certo porque tenho de estar com ela. Sem mim, perderia-se. Ela precisa que eu escreva por ela, que eu pense por ela, que eu manifeste seu amor por ela. Ela ama-a! Eu não, mas vivo esse amor como se fosse meu. E sinto nela uma tentativa enorme de que tudo isto passe, uma recuperação desejada que não chega. Tenho a certeza de que uma vez possuindo o tesouro, o seu valor diminuiria de imediato, mas é preciso possuí-lo para que a verdade seja apurada. Sou uma criação e quanto a mim, se isso me continuar a dar a opurtunidade da existência permanente, que a ame para sempre e que a outra nunca o faça. Só assim eu continuarei a escrever, só assim eu serei humana.

Sem comentários: