segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eterno Amor

Querido papá e mamã, 
Quero que saibam que a minha distância pode ser encurtada com algumas horas de viagem. 
Nada definitivo. 
 Não sumi nem vou sumir nunca. 
Vou sempre ser a menininha que levavam a passear mesmo que a minha noção de passeio tenha mudado com o tempo. Vou ser sempre a criança irritadiça que vos enche a cabeça de anedotas e vos transtorna a alma de tanto rir, que vos faz querer o mundo, que vos faz ter esperança nele. 
Sei que não querem nem desejam de forma alguma que tenha a vida que vocês tiveram. 
Casar, ter filhos, dedicar-me a uma família e abdicar da minha vida, da minha independência, dos meus objectivos. Sei também que puseram tudo em mim, que depositaram toda a vossa confiança, todo o vosso amor e carinho, toda a vossa fé se é que existe, todo o vosso pensar foi dirigido para mim e para o irmão lindo que tenho. 
Não. 
Não vou ter essa vossa vida dedicada aos filhos embora anseie por tê-los no regaço, como me tinhas tu mãe. Não vou pedir-lhes que me ensinem a dar cambalhotas pai. Sempre fingiste que não sabias só para me filmares com aquela câmara velhinha e pesada que pendia sempre do teu ombro...só para me ver chegar, rebolar, jogar á bola. Só para me ver a martirizar o Snoopy. Também não me esqueço nunca dele embora outros com a mesma densidade de ternura tenham entrado na minha vida. 
E sei que também não vou ter esse amor que nutre em vocês, sempre altivo e galante, desde sempre até hoje. Sempre me lembro de vos ver a pegar um com o outro, de vos ver rir e brincar. Recordo-me vagamente dos vossos sorrisos cúmplices um para o outro quando me levavam á praia. 
Ainda os vejo hoje. 
 Esses sorrisos, esses olhares. Tão verdadeiros, tão derradeiramente estupendos, tão avassaladores. Desejava ter isso, ter alguém para partilhar a minha vida como vocês fizeram. Quero ser assim, daqui a uns longos anos. Olhar para uma pessoa e sentir-me apaixonadíssima como da primeira vez. 
Vejo-vos a envelhecer, a adoecer e sei que vão ser sempre os dois, sempre vocês, com esse vosso ar especial de lidar um com o outro, sempre a renunciar beijos mas sempre á espera que se peçam. Não importa pai se és frio ou queres parecê-lo, se tu mãe reclamas porque ele é gastador. Importa que se souberam entender e que sempre foram moderadores um do outro. são sublimes para mim. 
Não sei... Sei que posso ter tudo aquilo que tiveram mas não isso. Não esse amor eterno que nunca morre, essa paixão faminta que ainda existe, esse segredo que mantêm os dois. 
O segredo de como serem só um no meio de tanta gente.

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