sábado, 7 de novembro de 2009

Cais De Embarque


São horas de voltar para casa.


Por muito que percorra, só lá me sinto segura. Só lá me restauro para ser roubada e corrompida novamente quando voltar para este inferno de cidade grande e bem sucedida.


Estou sempre á espera de voltar. A semana passa-se e tudo que me move é o regresso.


Está frio aqui e chove compulsivamente.


Estar longe custa mas ultrapassa-se mais ou menos com um momento de solidão e de pensamentos sobre mim e sobre o que faço aqui. Sei que tenho de estar aqui. Eles querem que eu esteja aqui. É aqui que estou. Eles estão felizes e eu também devia estar.


Só o mar me acalma. Somos iguais. Ele revolta-se e irrita-se com o simples roçar dos barcos. E eu revolto-me e irrito-me com um simples encontrão no meio da rua. Até o mar tem mais sorte que eu. Dói-me muito mais a mim do que a ele. Mas ele entende-me e absorve tudo aquilo que me preocupa. Não me causa danos nem perturbações mas eu temo-o como se fosse a própria morte. Ele quer tocar-me, tem ânsia por mim. Às vezes, dá-me a sensação de que me quer falar e após uma longe espera, reparo que estava enganada. Que louca! Agora, o mar já fala…


Viro as costas e começo a caminhar sem destino. Percorro a costa uma e outra vez, e outra, e outra mais…E vou reparando que as pegadas que deixo vão desaparecendo, como se estivesse eu mesma a desaparecer ou pelo menos aquilo que eu tenho, aquilo que eu deixo, aquilo que eu penso que sou…A margem vai encurtando e eu distancio-me já perto do porto, onde uns retornam e outros começam a viagem.


E relembro a minha própria viagem, escrevendo num álbum poemas submissos e rancorosos de alguém que partiu de mim e jamais voltou. Sinto que fui um óptimo cais de embarque. E hoje, sinto que sou um barco encalhado de uma pequenez tal, nem avistado pela luz dos faróis nem visto pelos olhos das pessoas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Tragédia Da Vida


Se é Tragédia ou Comédia toda esta vida que levo, não sei…Mas de certo sou actriz épica e comediante. Rio-me da vida porque também esta se ri de mim. E mascara-me para que ninguém me conheça. Vivo a vida de homens e o sonho dos deuses. Hoje, os homens não sonham. Também eu vou deixando de sonhar. O cansaço não me deixa sequer pensar. Sinto-me vazia. O sonho já não é uma prioridade. A luta foi deixando de existir. Estou a perder capacidades e sinto-me doente. Dói-me a alma, pesa-me a cabeça, ardem-me as articulações e torna-se difícil andar, até falar. Vou sendo mais leve mas sentindo-me extremamente mais pesada. Acho que não fui feita para ter paz. Sossego. Felicidade. Amor. Compaixão. Sucesso.

Absorvem-me com tanta facilidade que ao fim do dia não tenho energias de reserva. Ou porque mas levaram ou porque eu deixei que as levassem. É tanta a inveja, é tanto o meu orgulho e profunda a minha desistência.

Dantes tinha uma âncora. Hoje nem isso tenho. Nem fui capaz sequer de me prender a ela.

Os livros ganham pó na estante. Não há paciência e começo a desconhecer os caracteres em que estão escritos. É desumano cair assim, numa constante incerteza, numa certa inconstância, numa saudade eterna, numa insignificância cruel…

Parece-me que nada sei…O interpretar de tudo torna-se difícil até mesmo deste papel de actriz que me deram! Não sei se de comediante ou de trágico termo…

Depressiva, sozinha, desmembrada, esquecida, tragicamente motiva por um amor que já não existe…É assim que me vejo hoje! A viver do passado…E perdi tanto, tantas pessoas, tantos momentos…Nem Homero conseguiria escrever este enredo, nem pela mímese, nem pela música…Nem por qualquer outro meio…

Não ouço ninguém. Começo a deixar de ouvir.

A música era tudo. Hoje, é nada.

Não me sinto orgulhosa por chegar onde cheguei. Não sinto afectividade com nada nem com ninguém. Tudo me parece estranho. Não quero entranhar-me. Não quero familiarizar-me para voltar a perder tudo. Não posso perder mais nada. Talvez, não haja mais nada a perder.

Pergunto-me tantas vezes porque não fui mais forte e não me impus… Pergunto-me constantemente porque razão têm eles que escolher por mim…Questiono-me todos os dias sobre quem fui e sobre quem sou hoje. A comparação é inevitável…

Já não sou inteligente nem fantástica. Já não tenho força. Tornei-me fraca e não consigo lutar, seja pelo for. Já ninguém me idolatra como dantes. Já rejeitam os meus conselhos por acharem que sou perigosa! Hoje, o Sol não brilha para mim. Preciso de ajuda e não me sinto com força para a pedir.


É na Tragédia que vou vivendo enquanto não chega o episódio final.

sábado, 26 de setembro de 2009

ParentaliDade GeográfiCa


Sou vulcão que explode,
Nas encostas da tua incerteza.
Sou falha que desliza,
Até te ver desmoronar.
Sou mudança climática,
Desse degelo teu.
Sou catástrofe, sou tornado,
Que sem mais força, esmoreceu.
Sou mapa topográfico,
Com as coordenadas da tua existência.
Sou rio que corre ao mar,
Com enorme paciência.
Sou globo que percorre,
Todos os recantos onde te vi.
Sou a rota quando migras,
Á cidade onde nasci.
Sou satélite terrestre,
Que te olha constantemente.
Sou desigualdade e pobreza,
Em qualquer continente.
Sou bola de pêlo flutuante,
Num tremendo oceano.
Sou Norte e Sul,
Muito para além deste meridiano.
Sou rosa-dos-ventos incompleta,
Porque muitos caminhos me levaste.
Sou cabo, sou costa,
Onde por perto te afogas-te.
Sou superfície lunar,
Onde querias poisar.
Sou planalto ou colina,
Onde tanto ambicionas chegar.
Se fosse praia arenosa,
Dominavas-me sem pensar.
Mas como sou rochosa,
Sabes que dói ao tocar.
Ainda sou especiaria rara,
Vendida ao pôr-do-sol.
Canela, orégãos ou colorau
Ou extracto de girassol.
Sou upwelling no mar,
Corrente bem nutritiva.
Alimentaste-te bem dela,
Enquanto ia e vinha.
Sou tundra nos pólos,
Fria e repelente.
Sou deserto em África,
Seco e quente.
Sou copado de árvore,
Que resiste á tua pressão.
Sou agente erosivo,
Que dá asas á sua acção.
Somos duas politicas comuns,
De diferente fuso horário.
Sou estação do ano e mês,
Que não vem no calendário.
Sou grande escala de mapa,
Reduzido ao pormenor.
Sou salinidade das águas,
Que não te deixa envelhecer.
Sou recurso industrial,
E poluição exagerada.
Sou de clima tropical,
Pelo mundo extraviada.
Sou taxa de natalidade,
Para levar a cabo a qualquer momento.
Sou Tratado Europeu,
Levado á cena no Parlamento.
Sou função residencial,
Se me puserem na periferia.
Sou CBD internacional,
De Paris ou de Manila.
Sou radiação solar,
Que te causa transtorno.
Sou sustentabilidade mundial,
E de todo Universo.
Por isso, sou tudo.
Sou mais do que tudo.
É uma globalidade constante,
Saber que em tudo, perduro.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Costa


Já nada me mantém ancorada nesse teu cais. As marés vão sucedendo-se. Mas nenhum do teu Sal me salga já. Ou serei eu que talvez não me queira deixar salgar mais. E digo teu cais porque onde estou eu não há mar nem tão pouco sal do teu. Esgotou-se quando partis-te. E agora foi de vez porque há quem me diga que não voltarás tão depressa. Para sempre sei que não.
Sei que há outras vidas. Outros horizontes.
Outras paragens com mar que salgarás.
Tudo que me reconforta é que noutra vida, não sei bem em qual, foste minha. Tens todo o direito de ser de outra pessoa. E também eu tenho desejo de ser de toda a gente. Eu sou do mundo! Nunca me iria conter estando contigo. Não quero só a tua âncora, quero-a de todos os portos, de todos os navios, de todas as praias e de todos os mundos. Sou uma viajante do tempo que o percorre procurando-te sempre. Desta vez, caí num mundo em que tu és diferente. Inteligivel. Infelizmente, o meu poder neste mundo foi reduzindo-se.
Passei de ter-te a querer-te. Porque nessa vida não te queria e tinha-te. Será porque sempre queremos provar o fruto proibido. Será porque nascemos em tempos distantes. Será porque te comecei a amar por te ter perdido.
E por estranho e penoso que pareça, salgaste-me. Transformas-te o meu ser monótono e anti-social em alguém divertido e carismático. Idolatro-te por isso. Porém, o teu porto pede mais. Não abriga barcos á vela, frágeis e despojados. Prefere navios, estáveis e audaciosos.
Não digas que eu não sou audaciosa, se me propus conquistar o teu porto sem sequer me importar com a maré cheia ou vazia. Eu parti para ti sem saber que o rumo era a Sorte. E atraquei sei Sorte e sem nada. Até sem ti.
Embora tenha atracado, sentia-me á deriva. Perdida.
E sabes o que dizem dos barcos á deriva? Atracam sempre nalguma Costa.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Crime - Capítulo Último


Sabem o que dizem sobre os crimes passionais?
São cobardes e loucos mas são genuínos porque por detrás de tudo jaz um grande e verdadeiro amor. É pena que algumas pessoas como é o teu caso não percebam isso e o amor acabe por morrer. Mas vais perceber ou eu vou ter que tomar medidas. Possivelmente, estás a perguntar-te “Isto é para mim?”. Sim, isto é para ti. Tudo que faço é para ti. E não o valorizas, nem sequer me respondeste quando precisei que o fizesses. Agora é tarde.
Vejo-te todos os dias, sigo-te a toda a parte. Os meus olhos são os olhos de toda a gente. O mundo é meu. A tua cidade, a minha, eu estou em todo o lado. Nasci para dominar. Ouço-te e observo-te sempre que sais e pões os pés na areia. Quando bates a porta e sais com ele, eu estou lá.
Sabes? Já estive mais longe de fazer merda! Já te vi tantas vezes com esse cretino e consegui controlar-me. Mas agora estou num patamar diferente. Vou fazer mesmo merda! Tens tempo para escolher.
Deves estar a questionar-te se terei estofo para fazer alguma coisa. Infelizmente, quem sabe se não tenho já cá não está. Lamento.
O teu grande problema eu sei qual é. Nunca me levaste a sério! Pensas-te que por teres essa tua profissãozeca de pessoa conformada com a realidade ténue e invertebrada me podias rejeitar como fizeste. Eu merecia mais! Eu quero mais! E não vais fazer mais nada porque se eu vejo que te esticas vais tu e ele! Não me desafies, querida. Toma conta da tua vida e deixa o cretino seguir a dele. É bom para ti e melhor para a saúde dele. Acredita que eu sou capaz! Brevemente, voltarei. E se vejo sequer esse idiota a aproximar-se de ti…
Não! Primeiro tenho que reformular a minha tese que deixarei para todos. Já não és aquela pessoa que descrevi. És uma galdéria assanhada a quem a morte leva toda a gente porque não mereces ter quem viva ao teu lado. Como já disse tens escolha: Ou o deixas ou ele morre e se não estiveres contente, morres tu também e quiça os teus.
Vá! Chama-o para ler isto. Avisa-o. Deves estar assustada agora e a chamá-lo ou e ligar-lhe se não está contigo. És tão previsivel! Ou então guardas tudo para ti e esperas que cumpra o que estou a prometer-te.
Fizeste com que me transformasse nesta pessoa vingativa e repugnante. Tudo que viste até hoje foi quem era não quem sou. Tudo que lhe acontecer será culpa tua. E eu no máximo, alego loucura e passo 5 anos a recuperar com medicação intensiva! Tenho que pensar! Não posso deixar que uma pessoa como eu morra por uma cabra qualquer. Ou que seja esquecida por um crime que ainda não cometeu. Preciso de um plano…
Tudo que me moverá daqui para a frente será a vingança! Ninguém nem mesmo tu me despreza sem sequer dizer porquê! Nunca! E se o fizeste foi porque te amava tanto que não podia pôr-te em causa nem humilhar-te. Sei quão duro pode ser o mundo e não queria que fosse duro para ti também. Mas agora, que se lixe o que queres ou o que o mundo é!
Se não te tenho, mais ninguém vai ter.
Tapei os olhos mas agora não tapo mais. O descaramento é tanto que me enjoo. Deixa-me nauseabunda o facto de imaginar cenas repetidamente insólitas entre vocês. Por isso mesmo vou acabar com tudo de vez. É melhor que se vá despedindo lentamente porque vai ser lenta a minha vingança e ninguém poderá julgar-me porque o meu julgamento já começou á três anos. E tu foste a juíza principal. Se não me leste até hoje lê agora. Aconselho-te que o faças. Tu crias-te-me. Tu crias-te este wendigo que sou. E arrancar-te-ei o coração se for necessário.
Olha para mim? Não te tenho? Que tenho eu a peder? A vida é assim, querida. Não tens hipóteses porque simplesmente não tas dou. A escolha foi tua. E novamente será.
Tinhas tanto potencial e desgastas-te com esse indecente que te engana todos os dias.
Revolta-te, queixa-te, torna-me famosa pelo mundo, eu quero que o faças. Fala com toda a gente, retira essa raiva que tens enternecida na alma e odeia-me. Força!!!Eu quero que me odeies porque te vou dar razões para fazê-lo. Vais desejar morrer quando vires todos os teus banhados de sangue e eu á espera para te tornar num deles. E eu vou ser eterna pois levarei comigo almas que nunca se libertarão.
Sabes? Amava-te tanto que só queria uma oportunidade. Nem isso! Nem isso me deste! E eu tentei passar por ti e não sentir nada. Mas tu encarregaste-te de te mostrares mais e mais! Eu juro que tentei! Vou desiludir tanta gente por ti mas vou vingar-me. Ninguém fica com a minha presa!
Os meus 18 anos vão ser marcados por ti. Pela minha doce e tenra vingança e pela loucura que aprendi a consolidar com o meu génio literário.
Espero que estejam á minha espera quando saírem e eu estiver pronta a levar-te!
E tudo isto? Não dará mais do que um livro.
Espero que chegues comigo ao capítulo final.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Grandes pessoas, Grandes mudanças



Vamos pessoal!! Agora que saíram as notas dos exames tudo rumo ao ensino superior para fazer-mos furor pelo mundo e alcançar-mos o estatuto que tanto desejamos… Ás vezes aquilo que desejamos desilude-nos como cabeçada na parede. Tanto tempo a estudar, tantos trabalhos e teses de mestrado para quê, se continuamos a ser míseros e mortais. Como se algum dia alguém se pudesse tornar imortal…!
Mas até nos dá gozo chegar-mos ali e dizer-mos “Passei!”. Vi nalgumas caras a mais simples realização que um ser humano pode ter mas mesmo assim essa simples e mísera realização fazia-os felizes. Se algum dia chegarem a realizar-se por completo então não haverá tristeza nem nada que falte durante toda a vida.
Mas todo aquele furor e sentimentalidade passa nos minutos seguintes. Se têm motivos para chorar, choram. Se têm razões para sorrir, sorriem. É simples. É tudo lógica. E quando vêem as noticias á noite durante a hora de jantar (como se não houvesse mais nada que fazer senão prestar atenção a TV), pensam seriamente: Acabei o Ensino Secundário e agora? Pois…E agora pergunto eu!!! Onde Diabo vai haver vagas para tanto aluno que se quer formar e ser independente? Onde raio há empregos para os que se formam, se tudo que se vê na TV é desemprego e mais desemprego?? Sinceramente, ás vezes pergunto-me porque razão andei eu 12 anos a estudar se o mais provável é tirar um curso e nem ter emprego…
É o país que temos!!Défice, impostos, desemprego, tudo a subir!!! E depois de ver-mos isto temos nós vontade de lutar por alguma coisa se o mais provável é perdermos todas as batalhas?
Politicos corruptos sem cursos decentes, ministras idiotas sem ética nem moral, leis que não fazem sentido…É tudo a nosso favor!!E pobres daqueles que tiram os cursos e vão lavar escadas ou vender na praça…É triste ver o país neste caos apoteótico…Mas que vou eu sozinha fazer se ninguém está do meu lado? Os que lá estão não saem de lá…Se não saem, têm que sair!!A bem ou a mal…Se já se viu um país tão ignorante, tão inútil, tão fraco, tão pobre…Quase que somos país de terceiro mundo!!E os de terceiro passam para quatro num instante.
E volto-me a interrogar: E agora? Tiro um curso e na melhor das hipoteses fico a servir á mesa ou se a Sorte estiver do meu lado, tenho o emprego que sempre sonhei e morro a saber que vinguei num país de merda!!! Pois é assim pessoal, abram os olhos ou estamos muito mal…Matem-nos! Esquartejam-nos! Queimem-nos! Não fazem falta nenhuma se em vez de ajudarem só complicam…Temos de ser realistas e deixar de ser socráticos porra!! Esse era logo o primeiro a ir para a fogueira!!
Daqui a uns anos, quando olhar para todos aqueles que foram ver os resultados dos exames e vir neles o mesmo sorriso que vi quando avistaram a pauta, então acho que conseguimos mudar alguma coisa…Lutem por se realizarem pois a vida sem objectivos e sonhos não faz sentido! Lutem pelo que mais querem, nem que seja o impossivel…Somos bons, somos grandes pessoas. Mudem-se e mudem tudo a vossa volta porque eu já mudei e vocês? De que estão á espera?????


(“Sorriam á vida e pode ser que ela vos retribua com um arco-íris.”)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Estou aqui


Não posso deixar-te partir. Fugir de mim. És parte de mim agora, tenho o sabor dos teus lábios, o aroma do teu cabelo, o sentir do teu toque, o teu olhar que me pertence. E não quero saber qual é a razão pela qual não podemos estar juntos, pela qual não podemos estar sempre assim, cúmplices. Fecha os olhos. Pede um dejeso e eu faço com que dure para sempre. E se não conseguir pelo menos ter-te-ei a ti. E agora, pulo todas as paredes porque sinto a tua falta.
E diz-me: É uma ilusão aquilo que vivemos ou não passou de um sonho? Porque ilusão e sonho não têm de confundir-se. Se foi sonho, significa que dormia quando tu partiste. Se foi ilusão, então dormia acordada, crente de que somos um só. E enganava-me inconscientemente.
Agarra a minha mão, toma a minha vida mas não para sempre. Não o faças. Para sempre é demais.
Estou aqui, volta se queres voltar. Sabes que te espero, que anseio por realizar esse teu desejo por mais absurdo que seja. E tu, não és demais para mim. Sei que não.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

InvaDida

Sinto-me ultrapassada. Tenho a derrota dentro de mim. Estou cansada. E já nem a Elektra me ajuda. Dantes podia sentir-me ainda. Agora sinto que tudo que se escreve é dela. Fui sendo ultrapassada por uma pessoa que não existe. Pela minha própria criação! Mas devo-lhe o triunfo. Foi ela que me manteve saudável e consciente. Segurou-me na cabeça e nas mãos sempre que caía. E vivi o amor dela em vez do meu. E minha vida foi sendo invertida com a vida dela. Ao contrário dela eu sou real ou sinto que fui uma vez. Agora, a realidade abriu-se e restou um mundo inteligivel no qual eu não posso nem consigo entrar. A minha realidade é a realidade dela agora. É ela que querem, é ela que me comanda.
Não sei se por falta de coragem ou por humilhação, prefiro que o estrelato seja dela e não meu. Porque ela e eu somos a mesma pessoa em versões diferentes. O heterónimo é real , muito mais do que a pessoa que o criou.
Os meus pensamentos são estranhos e confundem-se. Intercalam-se e deixam-me baralhada. Não entendo. Ela sabe lidar com isto. Eu não. E quando ela não está em mim simplesmente penso em não existir. Reduzo-me ao mínimo e escondo-me. Ela roubou-me mas eu deixei que o fizesse. Era ela que devia existir se não existe já. As palavras que ouvem são dela porque eu não tenho intuito suficiente para as escrever. Nem tão pouco para as dizer. E aquele amor dela enlouqueceu-me porque deveras não era meu. Dei-lhe total liberdade em mim, deixei que me explorasse e me libertasse á sua maneira e acabou por enlouquecer-me. E quando me queimo é ela que se queixa, quando me batem é a ela que dói, quando choro são dela as lágrimas, quando escrevo pertencem-lhe os meus pensamentos e recordações.
Não posso reverter o efeito que tem em mim. Não sinto, não penso. Mas queria sentir e pensar. Não me deixa. São dela as sensações. Ela obriga-me a sentir o que não me pertence! E eu não luto. Porque ela é muito mais genuína do que eu, muito mais especial, muito mais procurada, desejada e absolutamente fantástica. Domina várias ciências…É impossivel comparar-me a ela em conhecimento. Fala várias linguas…Discutir com ela não resulta. É assombrosa a capacidade argumentativa que possui e quando lhe digo que se afaste, dá-me mil e uma razões para não o fazer. E então desisto. Á primeira tentativa desisto. Porque sinto que sem ela não conseguirei sobreviver. É o meu refúgio, a minha guarida, a minha sorte e o meu azar. Está cada vez mais dentro de mim e pergunto-me se algum dia decidirá deixar-me. Porque também ela sabe e tem consciência de que é precisa. E como todas as pessoas que são reais, quer triunfar e ser reconhecida.

Elektra Natchius (eu)

terça-feira, 2 de junho de 2009

FrenétiCa

Hoje sinto-me bem, energética, pirada. Sinto-me livre, capaz e soluvel. Gosto de me sentir fresca, aromatizada, em equilibrio. Quero sentir-me sempre ousada, corajosa e empática como hoje. Estou feliz. Estou satisfeita. Sinto-me realizada e orgulhosa por ser como sou. Sinto pena por todos e alegria por alguns. Hoje quero viver. Nunca morrer. Quero andar, correr e correr e dançar. Estou ansiosa e excitada. Estou calma e serena. Hoje sou eu e não aquilo que os outros querem que eu seja. E nada do que me possam fazer me afectará. Estou feliz. Estranho-me. Sinto-me compreendida e desejada. Sinto que me odeiam e que por isso sou importante. Apercebo-me de que me fogem e isso é muito bom porque quem me foge é quem não me faz falta. Estou poderosa. Tenho tudo para ser bem sucedida. Agora tenho tudo. Sei que tenho. Sinto-me desafiada pela vida, que me convida a vivê-la. Sinto que a minha parte decadente morreu com aquela história idiota que queria viver. Sinto-me uma linha telefónica sem parar. Um raio frenético luminoso. Um livro de histórias surreais. Uma novela de final inesperado. Um mapa que quer conhecer o mundo. Uma pessoa que não mais abdicará de si. Mas mesmo assim as pessoas desiludem-me estando eu no meu êxtase de vida. E fica-lhe tão mal essa atitude rasca e de segunda…
Mas tenho sangue nas veias e preciso de viver. Tenho dias e dias que contar, noites sem dormir e dias acordada. Não sei se me aguento mas ninguém me sabe dizer se sim ou se não portanto, é melhor arriscar! Tenho anos que ter e saudades para matar. Tenho pessoas que perder e pessoas que amar. Tudo tem o seu contraste e tenho mesmo que saber se posso e consigo sobreviver. Tenho tempo e mais que tempo para pular. Já outros morrem de tédios azarentos e de vidas constantemente aborrecidas. Tenho fogo. Eu sou fogo! Tenho vida. Eu respiro vida! Sou jovem…Para quê preocupar-me com idiotices que não fazem mais que desanimar-me? Já agora! Mais nada? Estou farta. Quero a minha vida de volta. Quero exaltar-me e rir e viver. Angústia, dor, sofrimento, amores não correspondidos, pessoas estúpidas e cobardes são constâncias que eliminei de vez da minha vida. Portanto, façam como eu: Não queiram chegar ao ponto que eu cheguei de crucificar a minha existência por alguém que se resume a nada, inútil, cobarde, mais que triste. Fazei ver a essas pessoas que um dia, quando estiverem sozinhas e olharem para o lado, não vão ver mais que a parede que nem sequer as reconforta com um sorriso. A vida dá muitas voltas e sabem que mais? A minha já deu as que tinha a dar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Cobaia




Não quero estudar. Não me apetece mesmo nada voltar a ler coisas das quais estou farta, massada, completamente desinteressantes embora me tornem um ser cívico e cultural. A minha preocupação é precisamente essa, precisar de estudar e não ter vontade de o fazer. Ainda por cima, estando tão próxima a fase de exames. Tenho a cabeça saturada e massada de tantas preocupações, preocupações que me põem em causa enquanto ser com capacidades, direitos e deveres. E exigem de mim comportamentos que não tenho e valores que perdi. E depois dizem-me que penso demais…Mas se não penso eu quem pensará por mim?
Estou seriamente a ponderar se desisto de tudo. Porque o peso é demais para mim e logo agora quando acabo de ser reabilitada no mundo, dito normal. Porque o mundo donde venho superou-me e pertence-lhe. E com essa derrota, que mais suportarei eu? Não chega já? E depois sou eu que penso demais!! Que grande lata têm estes…
E repenso aquilo que quero e nada mudou. O problema é mesmo esse, tenho muito claro aquilo que quero e não terei reação alguma se não o conseguir. E estou disposta a passar por cima, seja de quem for, para o conseguir…Lamento, mas a vida também não me é justa, portanto não devo eu justiça a ninguém. Se tiver que remoer a consciência terei muito tempo até morrer. Ou não.
Pergunto-me todos os dias se vou ser capaz de cumprir tudo aquilo que estão á espera que eu cumpra. Porque aquilo que eles querem não coincide em nada com aquilo que eu tenciono ter. E vou desiludir muita gente quando um dia destes desaparecer de todo. Preciso de descansar a cabeça. Nunca pensei estar tão cansada. Não corro. Pouco ando. Desporto só em casos especificos e meu trabalho é simples. E é esta rotina que me tem cansada. Não é o corpo, mas a cabeça e aquilo que me desmotiva mais é pensar. Pensar em tudo e em nada. Pensar no que ganho e mais ainda no que perco. Nunca estou contente. E isso chacina-me. Sinto-me mesmo uma cobaia depois de duzentas mil experiências!
Mas fui. Fui a cobaia de todos e mais alguns. E apercebi-me a tempo. Porque queriam modelar-me á descrição dos seus valores e normas, queriam transformar-me na filha perfeita, na adolescente ideal, na mulher feminista e idolatrada, na amiga fiel e sempre apta a ouvir, quando ninguém me ouvia. Queriam que eu ganhasse mesmo estando a perder. E quando acabei por reparar que isso acontecia, levantei-me e cresci. Todos viram que eu estava modelada com as minhas próprias ideias e valores. E que era impossivel, mudar-me. Então eu mesma escolhi uma cobaia. E tentei mudá-la a meu gosto. E desiludi-me quando consegui fazê-lo, porque tenho tanta imaginação que muitas vezes ultrapassa aquilo que são os limites da realidade. Mas mudou. E pergunto-me se fui eu, quando todos estranhavam a sua mudança. E esperava muito mais dessa mudança, tinha tantas ideias… Tinha valores que remodelar e atitudes que corrigir. E foram remodelados e corrigidos, pelo menos, tenho o leve olhar que sim. A minha cobaia? Superou-se sem saber. Ainda respira. E eu? Desiludi-me sem contar que mudá-la, seria o maior erro que alguma vez cometera. Porque mudar aquilo que não tem mudança, é tirar da tela a cor.