segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Saudade


É amarga a dor que me invade!
Dor que nem nome tem nem se identifica.
Apareceu sorrateira, fazendo-se de amiga, sem qualquer aviso ou anúncio.

Tenta controlar-me mas eu sinto-me forte.
Batalho contra ela todos os dias da minha vida, desde que invadiu a minha consciência.

Apenas sei, que esta dor, apesar de faminta e terrivelmente mortal, quero senti-la, quero tê-la, quero que faça parte de mim.
Num dia, como este, perguntei ao que me ouve, que dor era esta que me invadia e me alterava.

Disse que por muito que lutasse, era a saudade.
Saudade, que é transportada pelo vento, nas suas moléculas quentes e frias, d lugares distantes, até nós, de nós até um alguém, que também a sente.

Se a mulher não fosse mulher

Que magnifico arquitecto este! Que esbelta escultura se permite pelas suas mãos, louvar. Tudo é simbólico, tudo se resume a beleza, beleza rara para alguns, tudo está em harmonia, embora algumas vezes desproporcional. Embora haja ausência de proporção, a mulher constitui uma das mais belas esculturas do mundo, já o diziam os antigos, a beleza mata. Pois, e se não mata! A mulher pertence ao mundo, é a mãe, o nascer puro e genuíno. É aquela que dá continuidade a raça, aquela que prospera e prosperará por toda a eternidade. Essa face delicada e carinhosa á vista, com seus olhos de água límpida, de verde fresco ou castanho celeste, derretem os machos, ordenando-lhes, que prontamente se resumam a vassalos, a mendigos. A chama do olhar da mãe-terra, invade-os, dominando-os como bestas, á servidão mais cruel. Os lábios finos ou carnudos, com tom natural, entre o vermelho carnal e o rosa inocente, produzem neles um estigma de prazer, que tanto anseiam por experimentar. Os finos ou baços cabelos, com caracol ou simplesmente lisos e naturais, acaricia-os com seu leve tocar. Existem deusas e sem dúvida, a mulher é uma delas. O busto feminino e simples, está no Egipto antigo, como a mais bela mulher do mundo, está na mitologia grega e romana, como deusa e portadora das mais belas qualidades, está na Idade Média, como pertença dos homens e dona da vida, está no Renascimento, como pintura dos mais conceituados artistas, está na Idade contemporânea, como personagem de poesia, está hoje em dia, como pose de jornais e revistas, em toda a parte. Ao longo destes períodos, apesar de submetida e sem direito algum, havia a consciência plena, de que sem a mulher o homem não existe. Sem a mulher, o mundo não é mundo...O medo de perder o amor feminino, fazia os homens casarem-se, tornarem-se homens mais cedo, para que se assegurasse uma linha herdeira, que sem a doce e amada mulher, não existiria. Que dom deu Deus á mulher! O dom da vida, o dom do nascimento e da regeneração das sociedades…Graças ao útero feminino, as sociedades evoluíram, dando a estas, homens de ideais fortes, homens revolucionários, que acabaram por influenciar as sociedades actuais. Seria isto possível se a mulher não fosse mulher?

Um olhar matemático

Por muito que se diga dela, e por muito que com ela não simpatize, a Santa Matemática, é uma ciência que activa o poder.
O matemático torna-se génio, a fórmula torna-se lei e tudo acaba por rodar, á volta dos esquemas matemáticos, que regem o Universo. A vida é uma linha perpendicular, á qual se adicionam momentos, positivos ou negativos, que resultam numa incógnita, o destino. Alguns resolvem o problema, outros não. Estes últimos, regem-se por um paralelismo infinito, que faz da vida uma pirâmide sem base.
Nessa base, surgem grandezas absolutas e denominadores comuns, que nos controlam e nos dificultam a resolução do problema. Extraviam os nossos planos, os nossos diagramas e traçam rectas e curvas, na direcção errada.
Já os outros, que resolvendo o problema descobrem o Máximo Divisor Comum, vivem uma vida integral, exponencial, aproveitando cada momento impar, e dando prioridade á potenciação da felicidade. Surgem ai, os tão aclamados ciclos viciosos, os triângulos amorosos, que reduzem duas almas, a um só quociente.
No fim, inumeravelmente aclamado, restam as hipotenusas, a soma dos momentos mais importantes da vida, a que tão matematicamente chamo, formulas inacabadas.

Viagem até a ti


Percorri o Universo até te encontrar.
Descolei no foguetão da duvida,
Sobrevoei os céus da fraqueza
E entrei na Galáxia do amor!


No caminho,
Parei no Planeta Vermelho,
Que me abasteceu de ciúme e saudade.
E voltei á viagem infinita que é chegar a ti.


Estrondoso e cheio de incertezas este teu Universo!
Não imaginas, quantos meteoros e buracos negros tive de ultrapassar.
Mas finalmente encontrei-te!


Anda, sei que desejas ver-me, sentir-me, amar-me.
Partilha o teu mundo e eu partilharei o meu, este Planeta Azul que é nosso!
Embarca na nave da paciência, da compreensão, da paixão e do amor.
Sente-me, como a Galáxia que conseguiste alcançar.

Vultos nocturnos

Sustiveram-me aquelas paredes de Pedra dura e fria, enquanto os meus braços, pareciam desprender-se do resto do corpo. Tanta gente, á minha volta, um vulto desconhecido, que me sustinha a cabeça, sem me deixar adormecer. Por minutos, senti frio, senti a aragem alta e gelada, a percorrer-me o corpo, efervescente, quente, ardente.
Lembro-me de luzes, muita luz, mas estava escuro.
Uma chama estridente de luz, ofuscava-me a vista, cegando-me. Encostei-me, amparei-me e não me deixavam dormir! Tinha tanto sono, e não me deixavam fechar os olhos. De que me serviu tudo isto? No fim, acho que deixei de pensar em quem não devo, porque sei que também ela, não pensa em mim.

Crónica de uma lágrima no Douro


Consumiu-me por dentro aquela sensação de fracasso, quando parti. Sabia que alguém faltava, onde, porém, não era suposto estar, ainda que viesse comigo no coração. Quando partimos, senti-me a boiar, num oceano que nem me deixa afogar, nem remar até á margem. O oceano, prendia-me como o destino, entre a espada e a parede. Embora, a espada se cravasse cada vez mais, até se esgotar por fim. Ao respirar, o ar percorria-me os pulmões, como se respirasse soluçante, sem rumo e sem fôlego. Percorria-os e rompia até ás veias, onde se envolvia no sangue quente e me intoxicava de pesar. Desta reacção química, resultaram lágrimas, que nunca cheguei a chorar, porque não era certo ou porque chorar é para os fracos. Mas eu choro por palavras e não por lágrimas. Então sou fraca? Não sou forte. Se o fosse, já tinha ultrapassado a parede á muito tempo, e a espada não estaria cravada em mim, forçando-me a deixar-me levar e a sofrer cada vez mais, com cada espetadela, duma espada que, para mim, a mim está destinada. A brisa do Douro, tocou-me de leve, fazendo esvoaçar os meus caracóis e dizendo-me que algo se esconde para mim, como se transportasse em matéria, os pensamentos e recordações, de um alguém longínquo. Senti-me uma Fúria, uma metade mulher/metade cão infernal mitológico, que domina o vento. Senti que todos estavam ausentes, pareciam moribundos, com coisas que para mim, naquele momento, eram inexactas e supérfluas. A paisagem do Douro, corrompendo as gentes de profundos esgotamentos e stress, esgotava-se num ponto central, o horizonte. O rio, corria esgotado e levemente pelas margens, de séculos e séculos de trabalho, sem nunca se pensar em serem pagas. O verde dominante, de jardins em flor, abraçava os enamorados, envolvendo-os ao ínfimo detalhe, numa bênção inesperada. As aves, pombas sobretudo, voavam em circulo, tentando acertar no rumo a seguir. Desciam, poisavam e voltavam para o bando circular, onde um macho superior, as esperava. Conforme caminhava, pensava na sorte que tenho em poder usufruir daquilo que ali se mostrava, sem o mínimo interesse se não se está com a pessoa certa. Com aquela pessoa, que apesar de cinzenta a paisagem, a tornava viva e colorida, como nem Roquemont a pintara. Naqueles traços, de quadros centenas de anos mais antigos de que os meus próprios progenitores, via esse alguém que não fazia ideia, do que fazia ou do que pensava no momento. Via na baronesa o seu rosto, no conde, a sua irónica expressão, nas crianças, o seu sentido de humor, em Roquemont, o seu sucesso, na escultura, a sua forma, ainda que esculpidos estivessem, Narciso ou o próprio Deus Sol, Apolo. Naquelas salas, todas cheias de historia, onde se contavam lendas e amores perdidos, daqueles que se retratavam, para sorrirem ou para serem eternos, angustiava me saber, que também eu tenho historia e que um dia alguém a contará, por mais simples e triste que seja.

Crónica de quem ama e não devia amar (Parte 1)


Se me perguntassem qual o maior mistério do mundo, eu provavelmente diria, que era o amor. O amor, é a sinfonia mais complexa, que Bethoven nunca escreveu, é a formula mais complicada, que Enstein, não conseguiu resolver, é a maravilha que ainda não se descobriu, é o tesouro mais difícil de encontrar.
Porém, há em cada pessoa, em cada humano, um pedaço de amor, um recanto submerso de tremenda paixão, um misterioso pedaço de loucura insaciável, um percurso perigoso e arriscado de ilusão, tudo isto, apenas para definir e complementar o amor. Na minha opinião, não há amor sem paixão, nem paixão sem loucura nem loucura sem ilusão. Tudo isto, faz com que o amor, seja uma espécie de missão impossível, resultante das acções humanas e dos pensamentos e frequentes desejos, que acabam por se tornar constrangedores e insólitos, numa espécie, em constante mudança e em constante descoberta.
Ninguém pode dizer que ama, porque também ninguém sabe se odeia. Mas há, sem dúvida, uma correspondência entre amor/ódio. Quem ama, odeia e vice-versa. Há sempre algo que transporta o ódio ao nível do amor. Por vezes, torna-se maior de que a própria força que move o mundo, desviando destinos e domando as mentes dos retorcidos. Estes dois sentimentos, igualam-se e entrelaçam-se mutuamente. Quem é especial, acaba por se tornar num objectivo rebuscado e por concretizar. Nunca sabemos se o alvoroço que nos causa, é bom ou mau. É algo, que permanece incansavelmente dentro de nós e que nos leva a fazer loucuras. Nunca podemos saber o que realmente sentimos!
Embora o amor nos consuma, pode fazer com que façamos parte de alguém, e com que alguém faça também parte de nós. Quando estamos com ou avistamos esse alguém, sentimos a extrema segurança e o positivismo humano, de que tudo está controlado e como deveria estar. Sentimos um consolo antiquado, de apaziguar a alma e nos parar o coração. O amor torna-nos criativos e melancólicos. O amor causa desgraça e dor. O amor torna-nos a pessoa mais feliz do mundo. Será que sim, ou que nos torna ainda mais miseráveis? O amor rebaixa-nos, faz-nos ser quem não somos, e se isso não é ser miserável, então que será? Quantas pessoas deram a vida, por amor? Quantos morreram em vão por amor? Quantos se mataram por amarem? Quantos ainda esperam amar um dia? Quantos abandonaram quem pensavam amar, por outro alguém que também amam? Se isso não é cruel e miserável, então eu vivo noutro mundo, que não este.
O amor é algo, que se desenrola do nada e nos controla numa questão de acaso. Basta um simples olhar, tímido e selvagem, de um verde melancólico e orgulhoso e de uma loucura e paixão desmedidas, para dizer-mos que amamos. Será o amor tão simples? Não, não é. Quando se ama quem não se deve amar, em vez de felicidade, luta-se uma batalha de interesses, de loucura e crime, de poder e tortura, de perda e restrição. Quantos deixaram de amar por que a sociedade assim lhes exigia? Quantos amores impossíveis retornaram do além para dizer umas ultimas palavras? Tudo por amores que não foram permitidos! E agora pergunto, devem deixar que se amem, aqueles que não o devem fazer? Claro, que sim. Porque um Deus, num suposto livro sagrado qualquer, que por uma razão desconhecida criou a humanidade, amou-nos em vez de a ele próprio. Deu-nos a oportunidade de preservar algo. O amor! Mas continuo a perguntar-me constantemente: o amor existe? Se não existisse, que outra faculdade sentimentalista dominaria o homem ao ponto de dar a própria vida? Há quem dê a vida por amor a Deus, mas há quem a dê por amor a alguém, que não ele. A vida é uma linha e os seus extremos são o amor e Deus. Deus é deveras, um assunto muito diferente. Ninguém diz que existiu, pois não há provas. Mas ninguém afirma que não existe, pois provas não as há. Por Deus, muitos não amaram, pois pensariam estar a cometer um pecado punido com a morte. Que Diabo! Pecado? É pecado amar porque assim o fez Deus? Talvez…mas em todo o caso, Deus deu a vida por nós, logo, amar é superior á própria morte. Quem tem direito de proibir, aqueles que se querem e se amam? Quem pode ditar as leis do universo e impedir o amor? Amar é algo, superior a raças, a idades, a sexos, a distinções económicas, a tudo…quem ache o contrário que experimente e então verá, que tenho razão. Que seja consciente do que faz, e ame quem não deve, quem não lhe é correspondido. Inicialmente é uma dor insuportável, mas se conseguires que esse alguém te ame, cresce em ti um outro sentimento, um ligeiro sonho que te invade cada vez, que essa pessoa te olha. Sentes ter conquistado o mundo, ter subido ao céu, ter dominado o fogo, que te tem torturado tanto tempo. Com o decorrer do tempo, vais aprendendo a controlar aquilo que te põe á prova, o amor portanto. Em vez de demonstrares todo esse amor, sentes uma angústia angustiante cada vez que esse alguém se aproxima de ti. Tendes a desviar o olhar, mas reparando em cada gesto que faz e em cada expressão que usa. Se retribuir o olhar, sorris, ou então, ignoras. É tão difícil tornares-te invisível, quando sabes que está tão perto! Ali, a dois, três passos…a olhar constantemente para ti, definida por uma sigla, que todos desconhecem e uma expressão irónica, que todos veneram. É única aquela personalidade estranha e ao mesmo tempo, cada vez mais familiar! Consigo até, antever os gestos que fará de seguida, ou o que dirá. Apesar de previsível, há em cada dia, algo de novo a descobrir. Há sempre aquele pormenor que nos escapa, aquele gesto que falhámos ou que pareceu menos importante. Mas…com o tempo…o teatro acaba… e quando não temos essa pessoa por perto, refugiamo-nos em coisas mais mórbidas, os vícios e a raiva. Os diversos vícios acabam por acalmar o ritmo cardíaco, deixando-nos menos ansiosos e mais perdidos ainda. Porém, a raiva é aquilo que eu sinto constantemente. Quero que toda a gente á sua volta, desapareça, a bem ou a mal. Perder a paciência é um limite humano, e quando os limites se ultrapassam, alguém tem de pagar o preço.
Mas…apesar de tudo de mau que convém o amor, amar fez-me perceber que o destino existe e que não se controla, embora eu tenda a controlá-lo. Amo alguém, que está fora do meu alcance, pena para mim! No fundo, sei que com o tempo o saberá, senão o souber já…?!